Tenho recebido convites de amigos para entrar numa comunidade do Orkut - também criada por um amigo - chamada "Visite Floripa, ganhe uma multa". Explico para quem não mora em Florianópolis: a prefeitura instalou recentemente fotossensores nas avenidas de maior tráfego, sempre nos semáfaros, que flagram os carros acima da velocidade permitida, que avancem o sinal vermelho ou parem sobre a faixa de segurança. A reação à instalação dos radares (ou pardais) gerou até um movimento com direito a manifestações públicas e adesivos nos carros ("Fiscalizar, sim. Pardais, não"). A gritaria foi liderada por um ex-deputado estadual (Paulo Bornhausen, filho do senador Jorge Bornhausen, do PFL), que já havia conseguido a eliminação dos radares fixos de todas as rodovias estaduais de Santa Catarina. Como se vê, é um político de grande espírito público.
Esse caso é um exemplo de como as discussões públicas se dão no Brasil de modo enviesado. Em primeiro lugar, o que o movimento pede é, por princípio, absurdo: o direito de desrespeitar a lei. Ninguém questionava o limite de velocidade de 80 km/h na avenida Beira-Mar Norte até que ela passou a ter fiscalização. Seria legítimo discutir, por exemplo, aumentar o limite para 100 km/h, mas não simplesmente eliminar as multas. Infelizmente, não somos um povo educado, e as pessoas só respeitam a lei se acreditarem que serão punidas em caso contrário. Sem contar que ninguém tem a necessidade de dirigir a mais de 80 km/h numa via urbana cheia de semáfaros e com nove quilômetros de extensão. Na ponta do lápis, o ganho de tempo ao se trafegar a 100 ou 120 km/h é ridículo, e o comprometimento da segurança considerável. É por essas e outras que nosso país é campeão mundial em mortes no trânsito. Basta tirar um pouco o pé, e ninguém vai ser "roubado pela indústria da multa".