Uma das coisas interessantes de trabalhar como editor é a tarefa de cuidar de detalhes de como as pessoas escrevem. Uma de minhas manias é provocar alguma polêmica com esses detalhes. Uma boa fonte de polêmicas inúteis desse tipo é o uso do hífen.
Uma regra simples: ar condicionado (sem hífen) é exatamente o que sugere a expressão. Uma determinada porção de ar "condicionada", submetida a condições controladas de temperatura. Já ar-condicionado (com hífen) é o equipamento que condiciona o ar.
Assim, por exemplo:
Um só ar-condicionado central permite que as cinco salas tenham ar condicionado.
E quando se usa "aparelho de ar condicionado"? Defendo que se escreva assim, sem hífen, mas uma colega discordou. Afinal, a expressão não se refere ao aparelho? Então, pela regra, o correto não seria usar ar-condicionado, com hífen?
Vamos substituir "ar-condicionado" por "condicionador de ar".
Aparelho de ar-condicionado
Aparelho de condicionador de ar.
Não parece que a última expressão se refere a uma peça ou acessório do aparelho, e não ao próprio?
Agora vamos substituir "ar condicionado" por "ambiente refrigerado"
Aparelho de ar condicionado
Aparelho de ambiente refrigerado.
Agora parece a mesma coisa. Ou viajei?
De todo modo, há uma regra básica para o uso do hífen. O tracinho só é usado quando se pretende juntar duas ou mais palavras para criar uma nova, com sentido diferente das palavras que foram usadas na composição. "Pé-de-moleque" não tem nada a ver com a extremidade da perna de um rapazinho. É um doce.
Se uma expressão indica exatamente o que dizem as palavras que a compõe, então não há por que usar hífen. Dona de casa é o exemplo clássico. A expressão se refere exatamente a uma mulher que é dona de uma casa. Nada de hífen, então. Essa regrinha básica resolve a maioria dos casos. Inclusive o do ar-condicionado.
11 comentários:
Não entendi - ou entendi diferente. Primeiro, acho que o certo é condicionador de ar. Segundo, há alteração de sentido na expressão "ar condicionado"? Acho que não. So, no hifen!
Ah, outra coisa: o hifen não é uma das minhas principais preocupações. :) Não é tão grave assim colocar ou não hífen. Acho mais chato o uso inadequado de palavras. Elas, aliás, perderam o sentido. Há textos em que elas estão simplesmente atiradas. Um exemplo corriqueiro é "conferir". Todo texto de uma matéria de TV que vai citar alguma coisa em seguida, como receita, horários, dicas de alguma coisa, etc., sempre vem o indefectível "confira". E os jornais e sites também estão cheios disso. Sem falar no "disponibilizar", "checar"...
Condicionador de ar e ar-condicionado (com hífen) são sinônimos. Pode verificar no Aurélio. E sem o hífen, há alteração de sentido, sim. Nesse caso refere-se ao ar ambiente submetido ao efeito de um condicionador de ar, e não ao aparelho.
Conferir significa verificar se está certo, se é isso mesmo. Mas não sejamos tão rígidos com as palavras. Para conferir se está certo, é preciso ler, ver ou ouvir com atenção. Nesse sentido figurado, vale a analogia e o emprego de conferir. Equivale a dizer: "pode conferir que a informação está lá". É uma forma de estimular o leitor a ler o conteúdo extra.
Ah, é? Não sejamos tão rígidos com as palavras? É por isso que saem essas porcarias nos jornais todos os dias. E, agora, nos sites também. Hoje, por exemplo, o redator chega ao absurdo de mandar o pobre do leitor "conferir" um vídeo! Ora, faça-me o favor. É assistir - e pronto.
Reparei que os programas policiais começaram a usar "apreender" para pessoas, em vez de prender. "Fulano foi apreendido". Soa estranho e tenho a impressão de que está errado, mas não me dei ao trabalho de verificar. Missão para o super-Carlito! (com hífen, pois muda o sentido do Carlito)
Sou um nerd, mesmo. Esse anônimo aí sou eu. Já que tive que escrever de novo, aí vai mais um modismo da TV que não entrou bem nos meus ouvidos: começaram a usar, nas previsões do tempo da Globo e afiliadas, o termo "estado gaúcho". É como dizer "o país brasileiro". Estranho, não? Maurício Oliveira
Também acho esquisito. Quanto ao apreender, o termo é usado quando se trata de um menor. É que, pela legislação brasileira, tecnicamente menor não é preso. Que a polícia use isso, se entende. Mas na imprensa é uma bobagem.
É cagaço de levar processo. Por aqui, a Justiça decide como a gente deve editar um jornal. Tem notícias que nem sequer dizem o nome do cara que foi "apreendido". Motivo do crime, então,nem se fala. Teve um boiola que deu carona pra um cara e foi morto por ele. A notícia saiu sem nenhuma informação sobre a motivação do crime. Todo crime tem um autor, uma vítima e um motivo. Eles tinham um caso, mas o leitor não foi informado disso. Entendo que a família pode achar ruim, mas se a informação for verdadeira...
To falando que daqui a pouco teremos um lead mais ou menos assim: "um cara matou outro num bairro de Florianópolis..." É o politicamente correto ditando as regras. No names, no reasons.
Discordo quanto à "dona de casa". Deveria ser dona-de-casa, como está no "Aurélio", porque há, sim, mudança no significado original. Dona-de-casa é uma mulher que trabalha exclusivamente nas tarefas do próprio lar, que não precisa ser necessáriamente um imóvel próprio. Pode ser alugado. Neste caso, ela é dona-de-casa (como registra o "Aurélio") sem ser dona de casa.
Olá, adorei a explicação, hoje tivemos um grande debate no trabalho por causa do bendito "ar-condicionado", para passar uma e-mail ao depto. de Serviços Gerais solicitando o condicionamento da temperatura, ficamos em dúvida quanto o uso do hífen ou não!
Pra mim a explicação ficou clara e objetiva!!!
Obrigad....
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