domingo, 27 de março de 2005

Cornos do mundo, uni-vos!

"Com a monogamia, apareceram duas figuras sociais constantes e características, até então desconhecidas: o inevitável amante da mulher casada e o marido corneado. Os homens haviam conseguido vencer as mulheres, mas as vencidas se encarregaram, generosamente, de coroar os vencedores. O adultério, proibido e punido rigorosamente, mas irreprimível, chegou a ser uma instituição social inevitável, junto à monogamia e ao heterismo. No melhor dos casos, a certeza da paternidade baseava-se agora, como antes, no convencimento moral, e para resolver a contradição insolúvel o Código de Napoleão dispôs em seu artigo 312: 'o filho concebido durante o matrimônio tem por pai o marido'. É este o resultado final de três mil anos de monogamia".

O texto acima é de Friedrich Engels, o parceiro intelectual de Karl Marx, e está no livro "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", publicado pela primeira vez em 1884. Engels descreve, entre outras coisas, a evolução do matrimônio. Ele argumenta que, nas sociedades mais antigas, um grupo inteiro de homens "casava" com um grupo inteiro de mulheres. Nesse sistema, quando nascia uma criança, não era possível identificar com precisão quem era o pai. A mãe era uma certeza, o pai, apenas uma presunção. No parágrafo acima, de forma surpreendentemente bem humorada, Engels afirma que, mesmo com a evolução para o casamento monogâmico na sociedade moderna, a essência da coisa não mudou tanto assim.

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