terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Começou?

O jornal londrino Independent divulgou que pela primeira vez uma ilha habitada foi coberta permanentemente pelo mar, devido a elevação dos oceanos provocada pelo aquecimento global. Trata-se de Lohachara, na Índia, que já teve 10 mil habitantes. Há oito anos, a elevação do nível do mar já havia levado ao desaparecimento da primeira ilha deserta, o atol de Kiribati, no Pacífico. O que aconteceria se o mar começasse a engolir a Ilha de Santa Catarina? Leia em A Ilha, na seção Ficção, na coluna aí ao lado.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Seu Carlito e seus telefones

Meu pai conserta coisas há muito tempo. Seu Carlito Alexandre da Costa fez isso por profissão, primeiro com carros, depois com telefones. Hoje aposentado, mantém os consertos como hobbie e mesmo como hábito. Coloquem qualquer coisa quebrada na mão dele, nova ou velha, conhecida ou não, e o homem remexe até descobrir o defeito e dar um jeito de fazer funcionar. Desconfio que se a Nasa o enviasse a bordo de um ônibus espacial para dar uma olhada no telescópio Hubble, Seu Carlito seria capaz de encontrar um defeito e consertar com uma chave de fenda e um pedaço de arame - que ele teria levado por precaução.

Há alguns anos meus pais se mudaram para uma casa nova. Não demorou muito para que a churrasqueira coberta no fundo do quintal fosse convertida numa pequena oficina. É ali que Seu Carlito conserta e atualmente até cria (ou recria) engenhocas. As preferidas são os telefones, que ele recuperou ou consertou durante quase toda a vida profissional, como empregado de uma companhia telefônica. O que ele fez com o aparelho da foto é uma obra de arte. Juntou peças de equipamentos muito diferentes e fabricados em épocas também distintas para construir uma réplica perfeita de um telefone dos anos 1930. Uma frase do Seu Carlito resume tudo:

- Se me pedirem para fazer um telefone de bambu, eu faço.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Imagens inéditas!

O pequeno Xavier teve o rosto fotografado pela primeira vez. Quer dizer, não é exatamente uma fotografia, mas uma imagem com ultra-som 3D. A foto mais nítida que se conseguiu foi esta, onde (acreditem!) a mamãe Cléia já conseguiu identificar um traço do pai no rosto da criança: o queixo. Repararam? Não é a cara do pai?

Mas, como dizem, o importante é ter saúde. E isso ele tem. Pequeno Xavier já está com 37 cm e 1,7 Kg, um pouco grande para a média dessa idade (quase sete meses de gestação), mas dentro do normal. Ele se mexe cada vez mais e já está na posição correta para o nascimento, que periga coincidir com o meu aniversário, 26 de fevereiro. Tudo bem, nunca liguei muito pra festa e presente mesmo.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Capela

A Ilha - tempestades

Parte 3

VI

Gilmar Linhares esperava junto à entrada da Capela do Menino Deus, sozinho. Não fosse uma promessa feita anos antes, acenderia um cigarro. A noite está calma e um pouco fria, apesar da primavera. Pensava no cigarro quando dois faróis ofuscaram-lhe a visão por um momento. O carro passou por ele e estacionou atrás da Capela. O provedor da irmandade caminhou devagar até lá.

Três homens saíram do carro. Dois deles logo ocuparam-se em retirar uma carga do porta-malas. Gilmar reconheceu o terceiro e cumprimentou-o.

- Capitão Calvalcanti, estou aqui para servi-lo. Mesmo que, sinceramente não ache uma boa idéia.
- As igrejas ainda são mais invioláveis que instalações do governo, meu caro, mesmo militares.
- A imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos guardará bem esse material. Nosso amigo não a encontrará.
- Infelizmente - disse o militar - nossa missão falhou. Ele teve acesso a cópias. Cuidaremos disso no momento oportuno.
- Poderá sempre contar conosco.
- Não tenho dúvidas. A Marinha e a Irmandade são parceiras nisso há mais de 200 anos.

FIM

sábado, 9 de dezembro de 2006

Roterdã

A Ilha - tempestades

Parte 3

V

O prédio da NGOC fica numa elevação, um semicírculo envidraçado com vista para a região do aeroporto de Roterdã. Kalvelage saiu do elevador para um amplo saguão, com uma parede formada por janelas, deixando a iluminação natural encher o ambiente. Não que houvesse muita luz do lado de fora. Os dias tem sido mais sombrios que ensolarados. E também mais frios. O departamento de Climatologia Global começa a chegar a algumas respostas para os dois fenômenos.

O cientista entrou numa sala com paredes brancas, para aproveitar melhor a luminosidade. Encontrou-se com um colega e lhe perguntou sobre como ia o trabalho.

- Os dados dos jesuítas são impressionantes, considerando a época em que foram levantados. Eles aproveitaram bem a presença da ordem em vários continentes para espalhar seus padres-cientistas e montar uma rede global. - disse o colega. - Isso nos ajuda muito a entender o que está acontecendo hoje.

Os dois cientistas deixaram a sala. Tinham um compromisso. A NGOC lançaria oficialmente dali a pouco um braço empresarial, com nome bem parecido ao de uma antiga companhia holandesa fundada no século 17: Vereeridge Neederlandsche Geocitoyeerde Oast Compagnie (VOC).

Gilmar Linhares esperava...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Engarrafamento

A Ilha - tempestades

Parte 3

IV

O delegado ficou preso num engarrafamento-monstro na avenida Beira-mar. Ligou o rádio do carro. O aparelho ainda levou alguns minutos para que o noticiário desse algumas respostas. A maré subiu demais e alagou a avenida em três pontos. Em dois deles, é possível atravessar apenas por uma das pistas, devagar, passando sobre a lâmina de água salgada.

O problema se repetiu em outros locais, inclusive com o mangue adentrando em casas de veraneio no Norte da Ilha. Invasões da maré nas vias à beira-mar - justamente as de maior fluxo - tornaram-se comuns, com média de duas ocorrências por mês. A prefeitura já fala em projetar diques de contenção do mar.

- Furacão, maré alta, que diabo está acontecendo com essa cidade? - o delegado pensou alto.

Ligou do celular para a Superintendência da Polícia Federal. A secretária passou a ligação a um dos investigadores.

- Encaminhe aquelas intimações ainda hoje. - ordenou o delegado. - Quero um relatório completo sobre as duas suspeitas. Estou tentando chegar aí.

O prédio da NGOC...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Beeman e Mouse

Com o perdão da expressão, do caralho a matéria publicada hoje no Estadão, da repórter Adriana Carranca. O diretor mundial de Propriedade Intelectual da americana Microsoft, Keith Beeman, esteve em São Paulo e foi apresentado pela repórter a um camelô, Mouse, que tentou lhe vender cópias piratas do Windows Vista e Office 2007, softwares da Microsoft ainda fora do mercado – formal, é claro.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Dados

A Ilha - tempestades

Parte 3

II
I

O delegado Pacheco estava irritado. Tomou um café mais amargo que de costume, antes de reunir-se com os investigadores.

- Perdemos o holandês e o mergulhador. Não temos como incriminá-los e, para falar a verdade, a esta altura não acredito mais que foram os dois - concluiu Pacheco.
- Mas o holandês estava interessado no material. - argumentou um investigador.
- É fato. Mas não escondeu isso de ninguém, o que é estranho para alguém que pretende cometer um crime. E teve acesso às fotos, o que parece ter sido suficiente. Ele mandou o e-mail para a NGOC informando que já tinha os tais "dados" na noite do dia em que viu as fotos. O roubo foi executado dois dias antes e ele continuava procurando. Há outros indícios de que ele queria copiar o material, não roubá-lo.
- Para onde vamos agora?
- Temos outros suspeitos. Quero que fiquem de olho na arqueóloga, Carolina Paes, e na historiadora, Vilma Duarte.

O delegado ficou preso num engarrafamento...

domingo, 3 de dezembro de 2006

Cópias

A Ilha - tempestades

Parte 3

II


O delegado federal passou por um corredor com animais empalhados e um saguão onde estavam expostos esqueletos pré-históricos, antes de chegar à sala do padre Schmitt.

O jesuíta cumprimentou amistosamente o delegado Pacheco, terminou de colocar algumas fotos grandes e papéis sobre a mesa e ajeitou os óculos de leitura.
- A caixa parece realmente ter sido de uso da Companhia de Jesus, mas não o conteúdo. - atestou o padre. - Tudo indica que tanto a caixa quanto o conteúdo sejam do século 18.
- E as inscrições?
- São difíceis de decifrar exatamente, mas parecem algum tipo de tratado, escrito por alguém com conhecimento em ciências naturais.
- O senhor mostrou essas fotos a Ian Kalvelage?
- Ah, sim, o cientista holandês. Rapaz inteligente. Procurou-me dias antes do nosso primeiro contato. Disse que estava disposto a nos ajudar, permiti que fizesse cópias do material.
- Isso foi depois do roubo da caixa?
- Sim, foi... creio que dois dias depois.

O delegado Pacheco estava irritado...

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Confissão

A Ilha - tempestades

Parte 3

I


- Conseguiu a confissão do holandês? - perguntou o investigador.
- Não, ele nega, e tem bons álibis - respondeu o delegado Pacheco. - Se não conseguir provas, não vou poder segurá-lo na cidade. Achar a maldita caixa ajudaria.
- Alguma intuição?
- Há um elo dessa corrente que ainda não encontramos.

O telefone da mesa tocou. O delegado colocou a secretária no viva-voz.

- Ligação para o senhor. Padre Alfredo Schmitt.
- Ótimo. Pode passar.
- Delegado?
- Bom dia, padre. Precisava mesmo falar com o senhor.
- Pois eu tenho novidades que podem lhe interessar, mas preferia que o senhor viesse aqui ao museu do colégio jesuíta, se não se importa.
- Posso ir agora, se for o caso.
- Sim, eu o aguardo aqui, então.

O delegado federal passou por um corredor...