Quando comecei a trabalhar com jornalismo, ainda usava as velhas máquinas de escrever. Tinha em casa uma Remington Ipanema, leve e compacta, que se convertia numa maleta. Era uma espécie de ancestral do notebook. Na redação do falecido jornal O Estado, usava uma Olivetti cinza com cara de escritório dos anos 1970.
Naquela segunda metade dos anos 1990, como se vê, essa já era uma forma obsoleta de trabalhar. Mas usar uma máquina de escrever no lugar de um computador ajudava a desenvolver algumas habilidades de escrita importantes, ao menos para um jornalista. Com a velha Olivetti, aprendi a escrever mais rápido e com o texto final já na primeira versão.
Escrever "à máquina" é mais duro que num computador, em vários sentidos. O teclado pede mais força. O barulho exige mais concentração — especialmente num ambiente em que outros 30 jornalistas estão igualmente martelando suas olivettis e remingtons.
E se a fita etintada gastar bem naquela hora, é uma tarefa chata sujar os dedos para trocá-la. A fita etintada era uma tira de tecido "suja" de tinta, que os tipos da máquina pressionavam contra o papel, para imprimir as letras. Algumas eram totalmente pretas, outras tinha uma faixa preta e outra vermelha, permitindo variar a cor com que se escreve (não, isso não é invenção do Word).
Por tudo isso, dava uma preguiça danada reescrever um texto. Além do que, jornalista trabalha com prazo sempre apertado, o tal do deadline (a linha morta, horário além do qual não adianta mais escrever, porque o jornal já tem que estar rodando na gráfica).
E também não valia o recurso de rabiscar o texto todo à caneta com correções . É que a lauda (folha onde a notícia é escrita) era encaminhada depois para a composição, onde um peão precisava redigitar o texto. E se a lauda não estivesse minimamente "limpa" de rabiscos, corria-se o risco de que o peão digitasse alguma bobagem no meio das suas, ou que a devolvesse para ser reescrita. Na Olivetti.
A solução — pelo menos a que eu encontrei — era desenvolver algumas pequenas técnicas para obter um texto publicável já na primeira dedilhada. É uma forma de contornar as dificuldades que a propria máquina impõe.
Essas técnicas acabam treinando o cérebro para escrever um texto de jornal. Quando você passa a trabalhar com um computador, a coisa fica mais fácil para quem foi formado naquelas rústicas máquinas do século XX. E você acaba agradendo a elas. Quase fica com saudade da Olivetti. Quase.
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