sábado, 28 de agosto de 2004

Muçulmanos por aqui

Acabei de voltar de uma viagem de estudos a Lages, na serra catarinense, onde visitei um templo islâmico, a mesquita. O Islã é a religião que mais cresce hoje no mundo - já tem mais de 1,3 bilhão de adeptos - e conversando com os muçulmanos de Lages, acho que tive algumas pistas sobre as razões desse crescimento. É uma religião que tem suas regras, muitas vezes rígidas - como a proibição de bebidas alcoólicas - mas ao mesmo tempo dá um espaço de liberdade muito grande ao indivíduo. Não há, como entre os cristãos católicos, um clero que vigia o comportamento dos fiéis. Cada um resolve o problema com sua própria consciência. Não há confissão de pecados. O relacionamento é direto com Deus, sem a intermediação de padres ou figuras semelhantes. Em vez do dízimo cristão - um pagamento à instituição igreja - eles destinam uma esmola diretamente a quem precise de auxílio. Os templos são despojados e os rituais simples. Não há missas. Uma vez por semana a comunidade se reúne, para rezar e falar tanto de religião quanto dos problemas do cotidiano. As mesquitas são abertas a não muçulmanos - desde que comportem-se com respeito - e não há proselitismo. Eles preferem conquistar almas com o exemplo do que com a pregação.



Imigrantes libaneses instalaram-se em Lages na década de 1950, numa época em que a indústria madeireira impulsionava a economia da região. A comunidade islâmica local chegou a contar cem famílias. Depois que as matas de araucária sumiram e as madeireiras começaram a fechar, muitos saíram da cidade e hoje o grupo está reduzido 50 famílias. Em 1980, eles conseguiram um terreno da prefeitura para a construção da primeira mesquita de Santa Catarina - atualmente são duas no Estado, a outra em Criciúma. A construção do templo foi concluída em 1986. É um edifício simples, ao mesmo tempo despojado e aconchegante. Conta com um salão amplo, dotado de uma abóbada para garantir uma boa acústica, onde são feitas as orações comunitárias. Alí é preciso tirar os sapatos para entrar, em sinal de respeito e pureza. O prédio também conta com o tradicional minarete, uma torre típica das mesquitas, antigamente utilizada para que, lá do alto, alguém chamasse a comunidade à oração. Há ainda uma espécie de capela mortuária, onde os mortos são velados. O cemitério municipal tem um setor islâmico, onde os corpos são enterrados sem caixão, apenas envoltos numa mortalha, e não há túmulos. O enterro islâmico é bem mais barato que o cristão.

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