No último domingo, saí com um grupo de amigos jornalistas que comemoravam dez anos de profissão, ou mais precisamente, de formatura no curso de jornalismo, já que geralmente o pessoal começa a trabalhar na área antes de concluir a graduação. Ninguém se arrepende, mas o sentimento geral é de que a profissão não atendeu ao que se esperava dela. Talvez porque jornalistas fazem parte de uma raça insatisfeita por natureza, mas o mercado não tem ajudado. Os salários nunca animaram muito. Nesta semana o grupo de mídia controlado pelo empresário Nelson Tanure (Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e o saite Invest News) anunciou a demissão de cerca de 80 profissionais de redação, para reduzir custos. Isso num momento em que a economia do país se recupera e o desemprego começa a ceder. À caça de anúncios de qualquer jeito, as empresas de comunicação são cada vez mais promíscuas, procurando dar prioridade aos seus interesses comerciais e deixando de publicar o que o leitor precisa ou quer saber.
Há uma ironia histórica em relação a isso, no meu modo de ver. Há 20 anos, criticava-se muito a Rede Globo de Televisão por manipular a informação a seu bel-prazer, sustentada por um quase monopólio do mercado de comunicação. Basta lembrar o comício das diretas na Praça da Sé, em 1984, noticiado como uma comemoração do aniversário de São Paulo, ou a edição do último debate entre Fernando Collor e Lula, na eleição presidencial de 1989. Outras emissoras, com a Bandeirantes, eram vistas como mais "independentes". Hoje, a Globo parece ser o veículo capaz de proporcionar a informação mais confiável, justamente porque, com seu tamanho e saúde financeira, é uma das empresas mais protegidas contra interferências externas. As outras redes de TV desistiram de concorrer com a Globo e engalfinham-se entre si pelo resto do mercado, não hesitando em apelar. Os jornais estão quebrados, à procura de sócios estrangeiros ou empréstimos camaradas do BNDES. É muito mais fácil, para um anunciante ou um governo, pressionar um veículo nessa situação.
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