segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Rede Globo, 20 anos depois

No último domingo, saí com um grupo de amigos jornalistas que comemoravam dez anos de profissão, ou mais precisamente, de formatura no curso de jornalismo, já que geralmente o pessoal começa a trabalhar na área antes de concluir a graduação. Ninguém se arrepende, mas o sentimento geral é de que a profissão não atendeu ao que se esperava dela. Talvez porque jornalistas fazem parte de uma raça insatisfeita por natureza, mas o mercado não tem ajudado. Os salários nunca animaram muito. Nesta semana o grupo de mídia controlado pelo empresário Nelson Tanure (Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e o saite Invest News) anunciou a demissão de cerca de 80 profissionais de redação, para reduzir custos. Isso num momento em que a economia do país se recupera e o desemprego começa a ceder. À caça de anúncios de qualquer jeito, as empresas de comunicação são cada vez mais promíscuas, procurando dar prioridade aos seus interesses comerciais e deixando de publicar o que o leitor precisa ou quer saber.



Há uma ironia histórica em relação a isso, no meu modo de ver. Há 20 anos, criticava-se muito a Rede Globo de Televisão por manipular a informação a seu bel-prazer, sustentada por um quase monopólio do mercado de comunicação. Basta lembrar o comício das diretas na Praça da Sé, em 1984, noticiado como uma comemoração do aniversário de São Paulo, ou a edição do último debate entre Fernando Collor e Lula, na eleição presidencial de 1989. Outras emissoras, com a Bandeirantes, eram vistas como mais "independentes". Hoje, a Globo parece ser o veículo capaz de proporcionar a informação mais confiável, justamente porque, com seu tamanho e saúde financeira, é uma das empresas mais protegidas contra interferências externas. As outras redes de TV desistiram de concorrer com a Globo e engalfinham-se entre si pelo resto do mercado, não hesitando em apelar. Os jornais estão quebrados, à procura de sócios estrangeiros ou empréstimos camaradas do BNDES. É muito mais fácil, para um anunciante ou um governo, pressionar um veículo nessa situação.

Nenhum comentário: