sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

Agora vai

Não fazer planos para a vida pode ser um grande problema, por um lado, mas por outro... bom, não custa nada a gente tentar ver os próprios defeitos de forma positiva. Neste momento em que muita gente faz planos e propósitos para o ano novo, quero escrever para quem nunca soube direito o que fazer da vida - incluso este que vos fala. Falta de foco é um problema, com certeza, mas nada que impeça o sujeito de tocar a vida e, com um pouco de sorte, até se dar bem. Quem não sabe o que quer acaba procurando mais - e eventualmente acha. Houve um tempo em que eu me preocupava porque não sabia direito que profissão seguir ou onde queria estar dali a dez anos. Bobagem. Consegui meu primeiro emprego por acaso, aos 14, mudei de profissão dez anos depois - simplesmente porque apareceu uma oportunidade - e é bem possível que a história logo repita, assim que alguém me empurrar para fora do trem. Claro que nada disso me deixou rico, mas em 2005 tudo vai ser diferente. Vou apostar mais no meu futuro. Só preciso decidir se o investimento vai ser feito na Mega-Sena, na Loteria Esportiva... Ah sim, agora vai.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Beleza artificial

Essa deu no inglês The Guardian. A China está promovendo o concurso Miss Beleza Artificial, para escolher a mais bela chinesa - operada. Num país em que se gastam mais de 2 bilhões de dólares por ano em cirurgias plásticas, 19 mulheres - e um homem! - competem pelo título nacional de melhor escultura de bisturi. Não valem os dotes naturais. Todas as participantes têm de demonstrar que foram alteradas cirurgicamente, para ganhar o concurso realizado ao longo desta semana, em Pequim.



Os organizadores ainda terão de decidir se permitem a participação de Liu Xiaojing, de 21 anos, que trocou de sexo na mesa de operação quando tinha 18. "Legalmente, hoje sou uma mulher e este concurso é meu primeiro passo formal para a identidade feminina", disse a candidata transexual. Entre as participantes está ainda está Liu Yulan, uma aposentada de 62 anos e cabelos escurecidos que já passou por quatro cirurgias.



Alguém teve a idéia de realizar o concurso Miss Beleza Artificial depois que uma jovem de 18 anos perdeu uma ação por danos emocionais na justiça chinesa, no início deste ano. Ela foi desclassificada num concurso de beleza por ter se submetido a uma cirurgia plástica. O que faz uma injeção de capitalismo num país comunista que proibiu por 30 anos os concursos de beleza! Sinceramente, prefiro as mulheres digitais.







Nota de 20/12: a coroa foi para Feng, uma jovem de 22 anos, da cidade de Jilin, no nordeste do país.





quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Beleza digital

"Cada época tem o seu ideal de beleza, e cada uma produz sua encarnação visual desse ideal: a Vênus de Milo, um ícone do ideal de beleza no mundo grego, a Mona Lisa na Renascença, misteriosa e eterna, a 'divina' Greta Garbo, símbolo de uma beleza enigmática e etérea nos anos 1920, Marilyn Monroe, a beleza espontânea e sedutora dos anos 60. Miss Mundo Digital é a busca por um ideal contemporâneo de beleza, representado através da realidade virtual". Esse texto apresenta o projeto criado pelo programador italiano Franz Cerami, uma competição de beleza disputada por 39 musas virtuais. O concurso atraiu desenhistas da Itália, Índia, México, Estados Unidos, Chile, Bulgária, Inglaterra, Alemanha, Austrália, Espanha, Paquistão, Irã, Canadá e Brasil. A votação foi por júri popular, formado pelos visitantes do saite oficial do concurso, e encerrada no dia 4 de dezembro.



Katty-ko





A vencedora foi uma chilena e, curiosamente, uma modelo de carne e osso. De acordo com a agência de notícias Reuters, Rodolfo Perez Ayala decidiu que produto algum de sua imaginação poderia vencer a beleza de sua mulher, Katty Kowaleczko, e contratou o artista Flavio Parra para recriá-la em pixels. Kowaleczko interpreta Paula Sandoval na popular novela latino-americana Tentación. Katty-ko, a versão digital da atriz chilena, venceu o concurso com mais de 17 mil votos.





Pompea



O segundo lugar ficou com a italiana Pompea, a reconstrução digital de uma jovem morta na erupção do Vesúvio no ano 79. "Ela era escrava, mas amante de um homem rico. Seu corpo foi descoberto recoberto de jóias", disse Genny Tortora, professora da Universidade de Salerno e líder da equipe Pompea.



Kaya

A brasileira Kaya, que por enquanto só tem a cabeça, ficou com o terceiro lugar. A musa foi criada pelo artista Alceu Baptistão, que tem por objetivo criar "uma mulher digital para atuar como cantora ou performer", segundo informações do saite da finalista.



sábado, 27 de novembro de 2004

Mudança para o mesmo

Sei que isso não interessa a ninguém, mas como o blog é meu, escrevo o que eu quiser. Não ando atualizando os textos ultimamente por falta de tempo. Período de provas na universidade, trabalho e umas reformas em casa não seriam tanto problema, se o vivente também não precisasse dormir de vez em quando. A partir do dia 10 de dezembro, quando terminam as aulas deste ano, escrevo com mais assiduidade. Mudei a cara do blog na tentativa de resolver um problema. Não meu, mas de alguns leitores, notadamente os que usam os terríveis Macs (aquele computador que um dia foi bom e sempre foi caro) e que não conseguiam visualizar corretamente o texto. Troquei por um template que resolvia o problema, mas não gostei da nova cara do blog. Então mudei para este, que tem o mesmo defeito do anterior. Esse pessoal que troque o computador. Um efeito colateral indesejável da mudança foi a perda dos comentários antigos. Portanto, rapaziada, façam novos. Até breve.

sábado, 13 de novembro de 2004

A mulher do Arafat

Tutty Vasquez, do saite no mínimo, dá nova bola dentro, como de costume. É bom dar uma olhada no comentário do colunista sobre a morte de Iasser Arafat, as suspeitas sobre a viúva e a hipocrisia na cultura política brasileira.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Asterix e Obelix aos 45



Depois de registrar o aniversário de 40 anos da Mafalda, não poderia deixar passar em branco as 45 primaveras recentemente completadas por outro ícone dos quadrinhos. O francês - ou melhor, gaulês - Asterix e sua trupe apagaram as velinhas no último dia 29, exatamente um mês depois da argentina Mafalda. Na véspera, a Folha publicou um pequeno texto da agência de notícias France Presse lembrando a data. Asterix e seus amigos gauleses caçam javalis e distribuem sopapos em legionários romanos desde 29 de outubro de 1959. A revista francesa de histórias em quadrinhos Pilote -desaparecida em 1989 - publicou a primeira historieta, com roteiro de René Goscinny e desenhos de Albert Uderzo.



Hoje, as últimas histórias do pequeno gaulês ultrapassam os dois milhões de exemplares vendidos. O recorde é de 2001, com Astérix e a Traviata, publicado no mesmo dia em toda a Europa em oito milhões de exemplares, sendo três milhões na França e outros três na Alemanha, país onde Astérix é muito popular.No total, com 36 aventuras publicadas em 107 diferentes idiomas e dialetos, são 310 milhões de histórias em quadrinhos de Astérix e seus amigos vendidas em todo o mundo. Além disso, as aventuras do pequeno gaulês inspiraram jogos de computador, CDs, uma peça de teatro, sete filmes de animação e dois longas de sucesso, rodados em 1999 e em 2002. Isso sem contar o Parque Astérix, inaugurado em 1989 no subúrbio de Paris.



Ideafix



Uderzo tornou-se o único criador de Astérix desde a morte de seu companheiro Goscinny, em 1977. O desenhista resolveu continuar a aventura sozinho, assumindo também o roteiro, e as onze últimas histórias foram publicadas com sua assinatura. Com 77 anos, Uderzo acabou de terminar o roteiro da próxima história, que deve ser publicada em 2005, e deu a entender que, "talvez, pela primeira vez, o bardo Chatotorix será autorizado a participar do banquete final", que sempre encerra as histórias. Como diz o texto da Folha, seria um acontecimento histórico.

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

As pesquisas acertaram

Dário Berger (PSDB) venceu em Florianópolis uma eleição que já estava definida há muito tempo. É o novo prefeito eleito da capital. Na minha modesta opinião, era o pior candidado dos quatro que efetivamente disputavam a prefeitura. Mas democracia é isso. Vale a opinião da maioria, não a minha. De qualquer modo, considero exagerado o quase terrorismo que fez o pessoal do comitê suprapartidário em favor do adversário de Berger, Chico Assis (PP). Achar que Dário é uma ameaça para a capital, ou que Chico a salvaria das garras do mal, é subestimar a cidade. Florianópolis saberá se defender de um mau prefeito. Até porque ele terá uma oposição ativa, ainda que minoritária na Câmara. Como a administração da capital será ainda uma vitrina para pretensões mais altas do novo prefeito , interessará a Berger fazer uma boa gestão. Acho que ele é esperto o suficiente para saber que Florianópolis não é São José. Agora: ficou feio a choradeira do Chico Assis depois de anunciado o resultado, dizendo que o adversário trapaceou durante a campanha e que não teve tempo suficiente para explicar suas propostas - ele teve quase oito anos para isso, como secretário da administração Angela Amin. Depois da terceira derrota numa eleição para prefeito, o homem ainda não aprendeu a perder.

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

A tal alternância de poder

Estas eleições completam um ciclo de 20 anos desde o fim do regime militar, em 1984. Prestes a atingir os 21, a democracia brasileira dá alguns sinais de chegar à maioridade. Isso, é claro, na visão de um otimista incorrigível, apesar de tudo. Alguns fenômenos interessantes estão acontecendo na política brasileira. Um deles, já muito comentado, é a crescente polarização entre PT e PSDB, fruto certamente das últimas três eleições presidenciais. São dois partidos que, bem ou mal, têm projetos para o país, concordemos ou não com eles. Na visão de Ricardo Setti, em artigo publicado hoje no saite no mínimo, há outro fenômeno importante em curso: a derrocada do malufismo. Para Setti, mais do que um líder ou grupo político, é um estilo de governar que está sendo derrotado nas eleições de São Paulo.



Aqui em Florianópolis, talvez seja cedo para dizer isso, mas parece haver uma troca de lideranças políticas. Esperidião Amin (PP) perdeu há dois anos a reeleição para o governo. Sua esposa, Angela Amin, há dois mandatos na prefeitura da capital, não conseguirá fazer o sucessor, ao que tudo indica. Já o neo-tucano Dário Berger é o elemento novo. Renunciou ao segundo mandato consecutivo na prefeitura da vizinha São José para ser candidato na capital. Venceu o primeiro turno com larga vantagem, enfrentando nomes conhecidos da política local. Sufocado pelos Bornhausen no PFL, partido pelo qual se elegeu duas vezes em São José, migrou para o PSDB, onde começa a se afirmar como principal liderança, ou pelo menos como político bom de voto. Seu partido, o PSDB, já venceu em Joinville e São José e, se levar a capital, controlará três das quatro maiores cidades, afirmando-se como nova força no Estado. Até onde ele vai?

terça-feira, 19 de outubro de 2004

As aventuras do Google

O Google é provavelmente o mecanismo de busca na internet mais popular do mundo. Mesmo assim, parece que a assessoria de imprensa deles anda mostrando serviço. Ou então os usos da ferramenta estão cada vez mais diversificados. No último dia 15, o Estadão publicou a notícia sobre o detetive Pat Ditter, da polícia de Washington, Estados Unidos, que encontrou um criminoso foragido desde 1993 cruzando dados no Google. Hoje, a página da BBC Brasil traz a história do jornalista australiano John Martinkus, seqüestrado no sábado em Bagdá, por rebeldes iraquianos. Confundido com um americano, Martinkus conseguiu que seus seqüestradores checassem sua identidade usando a ferramenta de busca. Eles se convenceram de que o jornalista não estava a serviço de nenhuma empresa ou serviço de espionagem americano, e o liberataram. Moral da história: se você fez alguma coisa ilegal, fuja do Google. Caso contrário, deixe o seu currículo na internet, só por garantia.

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Palácios

Projeto do deputado estadual fluminense Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), propõe despejar o casal Garotinho do Palácio das Laranjeiras, residência oficial da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus. O objetivo, de acordo com o Estadão, é transformar em museu o prédio tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O deputado criticou a utilização inadequada do imóvel, o que pode acelerar a deterioração. Algum deputado catarinense poderia se inspirar na idéia e propor o mesmo em relação à "Casa d'Agronômica", onde mora o governador Luiz Henrique da Silveira. Parte de uma antiga estação agronômica experimental (daí o nome do palácio e do bairro), a residência oficial conta com uma ampla área verde atualmente fechada ao público, e uma bela casa, construída no início do século 20. Poderia ser transformada num jardim botânico, servindo ao turismo, pesquisa e produção de mudas para reflorestamento, enquanto a casa poderia abrigar um museu histórico ou de arte. Seria um presente para a cidade, carente de museus e de parques públicos. Quanto ao governador, poderia morar no próprio Centro Administrativo do Governo do Estado, para onde o governo mudou-se recentemente. Bastaria adaptar um dos amplos espaços do complexo para transformá-lo na nova residência oficial. O homem passaria a morar mais pertinho do trabalho.





Laranjeiras: nada de festinha de aniversário nos jardins do palácio

domingo, 17 de outubro de 2004

Para onde vão os votos?

A pesquisa divulgada nesse domingo pelo Ibope para o segundo turno da eleição para prefeito de Florianópolis não revela diretamente algumas informações importantes. Mas uma calculadora é suficiente para interrogar os números. Para onde vão os votos de Sérgio Grando (PPS) e Afrânio Boppré (PT), derrotados no primeiro turno? Espremendo os dados, conclui-se que esses eleitores estão rachados. Entre os que votaram em Grando, 35% viraram eleitores de Dário Berger (PSDB) e 29% optarão por Chico Assis (PP). Já entre os eleitores do candidato do PT, 29% vão de Dário Berger e 28% com Chico Assis. De acordo com os números do Ibope, portanto, Dário estaria ampliando a vantagem sobre Chico Assis com uma pequena ajuda dos eleitores de Grando. Os números mostram ainda que 35% dos que votaram em Grando ainda não têm candidato no segundo turno ou pretendem anular. Para os antigos eleitores de Afrânio, esse percentual é maior, chegando a 42%.



Os números totais da pesquisa mostram Dário Berger (PSDB) com 47% das intenções de voto, contra 31% de Chico Assis (PP). Entre os 805 entrevistados pelo Ibope, 11% pretendem votar branco ou nulo e apenas 10% estariam indecisos. A margem de erro é de 3,5%.

sábado, 16 de outubro de 2004

Por falar em armas...

O tráfico internacional de drogas e armas para o Brasil, que alimenta a violência de nossas grandes cidades, certamente vai continuar, mas pelo menos encontrará uma barreira a mais para entrar no território nacional a partir de amanhã. O Congresso aprovou a Lei do Abate, que permite à aeronáutica derrubar aviões não autorizados a voar no espaço aéreo brasileiro, conforme a edição de hoje do Jornal do Brasil. A aeronáutica vai utilizar aviões Supertucano, fabricados pela Embraer e equipados com metralhadoras 762. Os Supertucanos alcancam 600 km/h e dão conta do recado, segundo a Aeronáutica. Caso invasores usem aviões mais rápidos, a força aérea pode utilizar caças Mirage. A derrubada de aviões seguirá um procedimento padrão, com a ordem para pouso, tiro de advertência, tiros na carenagem e finalmente, se houver insistência do avião clandestino em desobedecer, a explosão da aeronave. O portal do Estadão traz uma animação interessante para demonstrar esses procedimentos. Organizações de direitos humanos já protestam, lembrando o caso da missionária americana e sua filha que morreram ao terem seu avião derrubado, por engano, pela força aérea peruana. O fato é que um país do tamanho do Brasil precisa ter controle de seu território, não só do espaço aéreo, mas também da imensa costa, onde a fiscalização é ainda mais deficiente.

terça-feira, 12 de outubro de 2004

Futebol e Armas

Para quem não leu, vale a pena dar uma olhada na edição do último domingo do AN capital, suplemento do jornal A Notícia para a região de Florianópolis. Recomendo dois textos. Um deles é a reportagem De campo de futebol a templo de consumo, na seção Memória (na versão impressa) ou Geral (na internet). O texto de Celso Martins recupera histórias engraçadíssimas do antigo estádio de futebol do Avaí, uma das duas equipes profissionais de Florianópolis. O lugar onde antes havia o campo, desde os anos 1920, foi comprado por uma construtora na década de 1980 e hoje é ocupado por um shopping. É uma pérola não só para quem vive na capital catarinense, mas para quem tem saudade do futebol desorganizado (no bom sentido). Matéria de Polícia da repórter Fabiana de Liz (também na seção Geral da versão on line) traz denúncia sobre o comércio clandestino de armas em favelas de Florianópolis. É de lá que vêm os revólveres e pistolas usados nos cada vez mais freqüentes assaltos na região. Essas mesmas armas são produto de roubo, o que chama a atenção para a importância da campanha nacional de desarmamento. Ela não desarma diretamente os criminosos, mas dificulta o acesso a essas armas, em geral roubadas de pessoas que as mantêm em casa para auto-defesa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

Voto em branco

O sistema usado nas eleições brasileiras permite ao eleitor três tipos de votos: válido, nulo e branco. O primeiro é o mais comum, em favor de um dos candidatos. Nas eleições em dois turnos, é a soma dos votos válidos que determina se alguém atingiu a maioria absoluta já na primeira votação, dispensando a segunda. O voto nulo é decorrente, em tese, de um erro do eleitor. Mas em nossa jovem democracia, virou sinônimo de protesto. O sujeito acaba votando nulo quanto rejeita todos os candidatos. Menos popular é o voto em branco, ainda que com direito até a tecla específica na urna eletrônica. Para efeito de apuração, é idêntico ao nulo, mas difere na mensagem deixada pelo eleitor. Ao contrário do nulo, o voto em branco não deixa dúvidas de que foi resultado de uma intenção deliberada. É ali que o eleitor deveria pressionar para dizer não a todos os concorrentes. Mas esse tipo de voto acabou vítima de um preconceito com origem na época da cédula eleitoral de papel. Votar em branco era então pouco recomendável, por facilitar a fraude. E a cultura do nulo acabou se impondo.



O voto em branco (ou nulo) é portanto uma alternativa prevista no próprio sistema eleitoral. Mas as vezes é caluniado, chamado de atentado à democracia, atitude reprovável, enquadrado em algum lugar entre a burrice e a preguiça de pensar. Esse chapéu serve bem ao voto irrefletido, aquele decidido por interesse mesquinho, por recomendação do pipoqueiro ou cara-e-coroa. O voto irrefletido pode ser tranqüilamente xingado de irresponsável, sem risco de remorso. Mas não é possível identificá-lo na apuração da Justiça Eleitoral. Matreiro, costuma se esconder no meio dos votos válidos, tanto quanto dos nulos e em branco. Está em todos os lugares onde se encontra também seu oposto, o voto responsável, que igualmente pode referendar um candidato ou marcar branco. E por que não? Se, depois de refletir seriamente, pesar os prós e contras, você decidir que nenhum dos candidatos merece seu voto, tasque branco, ora! O eleitor que faz isso está enviando uma mensagem tão clara quanto os que escolhem seus candidatos preferidos, além de abrir brechas futuras para o surgimento de alternativas. Nada mais democrático.

sábado, 2 de outubro de 2004

Mafalda aos 40



A conhecida rivalidade entre brasileiros e argentinos pode ser divertida, mas deixemo-la para o futebol. Nossos vizinhos sul-americanos têm muita coisa boa a oferecer, e uma delas acabou de completar 40 anos. Trata-se da tirinha Mafalda, do cartunista Joaquín Salvador Lavado, mais conhecido como Quino. Por essas mágicas dos quadrinhos, sua filha mais famosa nasceu com 6 anos, em 1964, e no último livro, décadas depois, ainda tinha 8. Com a sinceridade de uma criança, a pequena Mafalda olha em volta e diz o que pensa. Seus comentários e situações são um espelho das inquietações sociais dos anos 60, mas mantêm uma impressionante atualidade. É uma obra universal, traduzida para pelo menos 20 idiomas, e de um fino humor. Mafalda divide o espaço das tirinhas com outras crianças: a fofoqueira Susanita, o preguiçoso Felipe, o ambicioso Manolito, o sonhador Miguelito, a radical Libertad e o imão menor da protagonista, Guille. Os adultos - incluindo os pais de Mafalda - são sempre coadjuvantes e nunca identificados pelos nomes.







Mafalda apareceu pela primeira vez em 1964, no suplemento de humor Gregorio, da revista argentina Leoplán, que publicou então três tiras. Quino já era um cartunista conhecido, que há uma década publicava seus desenhos de humor em jornais e revistas. Em 29 de setembro do mesmo ano, o semanário Primera Plana, de Buenos Aires, começou a publicar regularmente as tirinhas de Mafalda. Essa data foi transformada no aniversário da personagem. Em Buenos Aires, uma série de eventos lembra atualmente os 50 anos dos desenhos de Quino e os 40 anos de Mafalda.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Qual seu desenho preferido?

Uma pesquisa encomendada pelo canal de TV Boomerang perguntou a mil adultos britânicos, com idade entre 25 e 54 anos, qual é o seu desenho animado preferido. O resultado da pesquisa está na página da BBC Brasil. Os dez mais votados são todos seriados de animação que são ou foram exibidos no Brasil.

O campeão é Tom e Jerry, criado pelos estúdios Hanna-Barbera em 1940. O gato e o rato mais populares dos desenhos entre os britânicos já estrelaram 161 programas e receberam sete Oscars. Segue a lista:

2. Scooby-Doo - recentemente virou filme, em cartaz no Brasil.

3. Danger Mouse - o ratinho agente secreto exibido pelo SBT nos anos 80.

4. Manda-Chuva - Top Cat, no Brasil dublado pelo Lima Duarte, quando era novo.

5. Os Flinstones - foi o seriado de maior sucesso nos anos 60.

6. Pernalonga - clássico da Warner Bros., ainda é exibido pelo SBT.

7. Popeye - o mais antigo da lista, criado em 1933.

8. Papaléguas - outro clássico da Warner, o único da lista sem diálogos.

9. Corrida Maluca - quem não lembra?

10. Hong Kung Fu - o cão mestre em artes marciais e seu amigo gato, o China.



quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Falando em café...

Eu sei que pesquisa científica é aquela coisa, o que hoje faz bem, amanhã pode ser considerado um veneno. Mas como sou fã do café, e para continuar o assunto da nota anterior, transcrevo aqui trecho de reportagem de Conceição Lemes publicada hoje no saite no mínimo:



Agora, um estudo realizado pelo Setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular da Escola Paulista de Medicina, ligada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), traz ótimas notícias para os milhões de fãs da bebida: tomar diariamente até cinco xícaras pequenas de café passado em coador de pano ou filtro de papel não eleva os níveis de colesterol nem de triglicérides – as gorduras sangüíneas. "Essas formas de preparo impedem a passagem das gorduras do café. De quebra, quando combinado com dieta balanceada, ajuda a emagrecer", revela a nutricionista Rosana Perim Costa, autora da pesquisa. O cardiologista Francisco Fonseca, coordenador do setor, orientador do trabalho e professor, acrescenta: "Consumido dessa maneira, o café diminui a oxidação das gorduras do sangue, podendo até contribuir para reduzir a aterosclerose e as doenças cardiovasculares".



E de quebra, um cafezinho é muito bom.

terça-feira, 28 de setembro de 2004

Da Arábia para o Ponto Chic

Devemos mais à cultura árabe do que costumamos imaginar, inclusive o hábito de tomar café. Em torno do ano 1000, os árabes começaram a preparar uma infusão com as cerejas do cafeeiro, já conhecidas por suas propriedades estimulantes, fervendo-as em água. Mas somente no século 14 foi desenvolvido o processo de torrefação, tornando a bebida mais parecida com o que temos hoje. Foi em Meca, na Arábia, que surgiram as primeiras cafeterias, conhecidas como Kaveh Kanes. O café conquistou a Europa a partir de 1615, trazido dos países árabes por comerciantes italianos. O hábito de tomar o café, principalmente em Veneza, estava associado aos encontros sociais e à música que ocorriam nas alegres Botteghe Del Caffè.



As cafeterias espalharam-se pela Europa durante o século 18. Durante tardes inteiras, jovens reuniam-se em torno de várias xícaras de café, discutindo o destino das nações, declamando poemas, lendo livros ou simplesmente passando o tempo. O Império Brasileiro, construído no século 19 graças à exportação de café, importou esses hábitos europeus, ainda que por aqui o boteco tenha feito mais sucesso. Da corte do Rio de Janeiro, o hábito de discutir as fofocas da política e de alcova em casas de café espalhou-se pelo Brasil. Um dos últimos representantes dessa tradição aqui em Florianópolis era o Ponto Chic, fechado há poucas semanas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Cabrito

Tenho desde 2002 um jipe Suzuki Vitara JLX, modelo 1993. Embora não seja propriamente um jipeiro - meu orçamento doméstico não permite a extravagância de arrebentar o carro em trilhas - gosto muito do Vitara. Mas nada comparado à paixão de Rafael Reis, um designer gráfico de 28 anos, ex-escoteiro, por seu jipe, um modelo semelhante ao meu. Reis criou o saite Cabrito, inteiramente dedicado ao seu Vitara. Feito por um profissional, a página é muito boa. Para quem se interessa por off-road e aventura, trata-se de um endereço digno de entrar para os favoritos. Nas várias seções, o jipeiro registra em texto e fotos suas aventuras nas trilhas da vida, dá dicas de mecânica, publica fotos de outros "zuks" (apelido carinhoso para os jipes Suzuki), e oferece links para comunidades de loucos por off-road na internet. Mantém ainda um cadastro que permite informar aos seus leitores, por e-mail, das atualizações do saite e uma curiosa seção de "notícias". Numa das últimas, o autor descreve como quebrou o diferencial dianteiro do jipe, com direito a inúmeras fotos demonstrando o estrago e os reparos. Coisa de quem tem uma bomba de gasolina no lugar do coração.





O Cabrito de Rafael Reis. O meu Vitara é bem mais comportado.

domingo, 26 de setembro de 2004

Puck man

O amigo Giancarlo, em comentário à nota anterior, trouxe à tona mais nostalgia dos anos 1980. Ele recorda dos tempos em que brincava com um Odyssey, videogame produzido no Brasil pela Phillips. O brinquedo de que fala o Gian era na verdade o Odyssey 2, lançado nos Estados Unidos pela Magnavox em 1978 - seis anos depois da primeira versão e um ano depois do Atari 2600. O Odyssey 2 foi o primeiro videogame com teclado completo, de 49 teclas, recurso que não pegou nos aparelhos que o sucederam. O Gian também cita outro tótem da cultura dos videogames, o jogo conhecido no Brasil como Come-Come ou Pac Man, que até hoje tem aficionados em versões para rodar no computador pessoal.



Pac Man, na versão jogo...



De acordo com o saite The Video Game Revolution, O Come-Come foi criado pela companhia japonesa Namco. Em 1980, os japoneses se associaram à America´s Midway e levaram o jogo para os Estados Unidos, com o nome Puck Man (algo como "Duende"). Por temor de que o público americano considerasse o nome ofensivo - a garotada logo o apelidaria de Fuck Man - o jogo foi rebatizado, antes do lançamento, de Pac Man, provavelmente uma referência ao som característico do personagem-título. Primeiro game a ter o nome de um personagem principal, o Pac man logo se tornou altamente popular, dando origem até a um desenho animado para tevê produzido pelos estúdios Hanna-Barbera. Pode-se dizer então que o Come-Come é um ancestral pré-histórico dos modernos jogos tipo Adventure, com personagens e enredo.



... e no desenho animado da Hanna-Barbera.


Gian também lembrou do Intellivision, seu sonho de consumo à época. Não era o único. Há até um saite destinado especialmente aos aficcionados-saudosistas do brinquedinho no Brasil. O Intellivision foi lançado nos Estados Unidos em 1979 pela Mattel (a mesma das bonecas Barbie). Para entrar no então crescente mercado de videogames, a empresa associou-se à General Instruments, que já tinha o projeto Gemini 6900. A qualidade dos gráficos, superior aos concorrentes Atari e Odyssey, tem uma explicação técnica. O Intellivision foi o primeiro videogame de 16 bits. Ele utilizava o processador CP1610, que funcionava a um clock de 800 Khz. Nada que se compare aos computadores pessoais de hoje, com seus clocks de 2 GHz, mas um assombro para a época. Com capacidade para processar mais dados em menos tempo, o Intellivision podia usar gráficos mais apurados nos jogos.


sábado, 25 de setembro de 2004

O primeiro videogame

Acabo de acrescentar importantes informações à minha inútil - porém divertida - cultura sobre os videogames. Escrevi duas notas sobre o Atari, um ícone da minha geração, e cheguei a chamá-lo de pioneiro desse tipo de brinquedo. O saite The Video Game Revolution: The History of Games corrige no entanto esse dado. A história é mais antiga. Em 1952 o americano A. S. Douglas criou o primeiro jogo de computador conhecido, Noughts and Crosses ("Zeros e Cruzes") como parte de sua tese de doutorado na Universidade de Cambridge. O primeiro videogame doméstico seria lançado em 1972, o Odyssey, que mais tarde chegou a ser vendido no Brasil (alguém lembra?). Criado por Ralph Baer e produzido pela Magnavox, o brinquedo rodava 12 jogos diferentes, incluindo um chamado Ping Pong. Baer ficou conhecido como o pai dos videogames. Em 1977, aparece o Atari 2600, o primeiro console multi-jogos. Diferente dos aparelhos anteriores, em que o videogame já vinha com um número limitado de jogos embutido no hardware, o Atari passou a usar os cartuchos, vendidos separadamente. Em 1979, quatro funcionários da Atari fundam a Activision, especializada na produção de jogos para o Atari 2600. Para quem se interessa pelo assunto, vale uma visita ao saite, que complementa um especial sobre o tema veiculado pela rede de tevê pública americana PBS.

sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Barra Grande

A construção de uma hidrelétrica na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul poderia se tornar o centro de uma grande discussão sobre o futuro do país. Poderia, se os dois lados do debate tivessem a mesma potência de voz. Trata-se da usina de Barra Grande, no Rio Pelotas, região do Planalto Serrano, que teve a licença ambiental concedida na semana passada, como informou A Notícia na edição da última quarta-feira. A autorização do Ibama para que seja formado o grande lago da hidrelétrica foi saudada pelo governo federal. Os entraves para investimentos em produção de energia começam a ser superados, o que contribui para afastar o risco de um novo racionamento a partir de 2007 e para eliminar gargalos que impedem o sonhado crescimento sustentável da economia. Para o cidadão comum, isso significa mais emprego, a médio e longo prazo. Mas uma reportagem do saite ambientalista O Eco procura mostrar que nem tudo são flores. Há a Mata Atlântica no meio. Só que nessas circunstâncias, é difícil defender a floresta. O colunista Marcos Sá Corrêa deu voz a entidades ambientalistas catarinenses e internacionais. Elas denunciam que o Ibama teria liberado ilegalmente a licença, baseada num relatório fraudulento, permitindo a devastação de uma grande área protegida. Os ambientalistas já movem uma ação na Justiça Federal contra o licenciamento da hidrelétrica. Num país com tantos problemas para resolver ao mesmo tempo, é ainda mais difícil conciliar os interesses das gerações atuais e das futuras. Ou simplesmente cumprir a lei.

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Como caçar patos

Quem costuma dar algum crédito a todas as informações que recebe via internet deve dar uma olhada na coluna de hoje do Pedro Dória em no mínimo e no blog Coluna Extra, do jornalista Alexandre Gonçalves. O assunto é o mesmo: como um colunista com 15 anos de internet foi vítima - por mais de uma vez, confessa - de um hoax, um boato lançado na rede. No caso, trata-se do Sexkut, versão sexual do Orkut. O Sexkut foi um boato, na forma de uma página de internet criada especialmente para capturar patos, inventado pelo pessoal do Cocadaboa, saite humorístico que anda na moda - pricipalmente depois desse espisódio. Pedro Dória admite o erro, descreve como acabou sendo o pato alfa do boato e relembra que também foi enganado de maneira semelhante, há dois anos. Em seu favor, diga-se que não foi o único. Até jornalões como a Folha de São Paulo e O Dia compraram a pauta e entraram para a grande rede de patos do Cocadaboa. Os engraçadinhos anunciam agora que o serviço, de tanto interesse que despertou, vai começar a funcionar de verdade. Será que alguém vai levar a sério?

quarta-feira, 22 de setembro de 2004

Essas inglesas...

A sedução era uma arma da espionagem britânica na primeira metade do século 20. James Bond, o agente 007 da literatura e do cinema, não foi o único a usar essa estratégia a serviço de Sua Majestade. Longe da ficção, as espiãs inglesas também valiam-se de seus talentos sexuais para obter informações preciosas. A tal ponto que pelo menos um diretor do MI5, o serviço secreto britânico, preocupou-se em conter os excessos de suas agentes, em carta datada de abril de 1945. A carta está entre os 280 documentos divulgados em maio pelos Arquivos Nacionais, em Kew, na Inglaterra. Maxwell Nnight, responsável pelo treinamento dos espiões britânicos, criticava os métodos utilizados por Mata Hari, espiã executada durante a Primeira Guerra Mundial que usava o sexo como ferramenta de investigação. "Estou convencido de que mais informações foram obtidas por agentes que se mantiveram longe do alcance das mãos masculinas", escreveu Knight. As informações estão na página da revista História Viva. Sexo e espionagem, portanto, não andavam juntos apenas na ficção. Será que continua assim?

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Salim Miguel

Está nos jornais locais, mas vale a pena repertir a notícia. Salim Miguel lança daqui a pouco, no Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, seu novo livro: Mare Nostrum - romance desmontável. Com 80 anos de idade e a vista turva, quase cego, Salim é hoje uma jóia rara numa província sulista com pouca tradição na literatura. Seu livro anterior, Nur na Escuridão, lançado em 1999, alcançou reconhecimento nacional com o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, em 2001. Nascido no Líbano, Salim chegou ainda criança ao Brasil e viveu dos 5 aos 19 anos em Biguaçu, nos arredores de Florianópolis, mudando-se depois para a capital catarinense. Nur (luz, em árabe) na Escuridão é um romance autobiográfico sobre a imigração da família libanesa e sua nova vida no Brasil, na primeira metade do século 20. É um livro que recomendo, e não por bairrismo. Em Mare Nostrum, Salim se propõe a novamente inverter o binóculo falando de temas universais por meio de histórias de sua aldeia. A estrutura foi pensada para que a história possa começar por qualquer capítulo, ao gosto do leitor, daí a idéia de romance desmontável. Leia mais em A Notícia e no Diário Catarinense.





segunda-feira, 20 de setembro de 2004

A volta do Atari II

Acabei de recuperar meu Dactar, a cópia nacional do lendário Atari, o pai dos videogames. Leia a nota publicada no dia 10 de setembro, A volta do Atari, sobre o relançamento do brinquedinho. O aparelho está completo (console, os dois controles, adaptador e conector para TV) e funcionando razoavelmente bem, excetuando-se aqueles já conhecidos problemas de contato nos plugues dos controles. Também recuperei alguns cartuchos de jogos, inclusive os clássicos River Raid e Enduro. Estou pensando em chamar alguns amigos e organizar um dia de jogatina. Se alguém tiver em casa algum velho cartucho com jogos de Atari, aceito presentes. Vêm aí dia das crianças (12 de outubro), natal, meu aniversário (26 de fevereiro). Mas não é preciso esperar essas datas, aceito também se ganhar apenas por ser um cara legal. Antigos joysticks do Atari ou Dactar, funcionando, também servem. O jogo que mais cobiço no momento é esse aí da imagem, o Keystone Kapers, que eu jogava muito nos anos 80, mas não tenho mais o cartucho. Está dado o recado.





domingo, 19 de setembro de 2004

Quase novidade

E finalmente saiu uma nova pesquisa de intenção de voto para prefeito de Florianópolis, a duas semanas da eleição. Pena que não traz grandes novidades. De acordo com o instituto Mapa, contratado pela RBS TV, Dário Berger (PSDB) continua disparado na frente, com 34%. Sérgio Grando (PPS) e Chiquinho de Assis (PP) aparecem pela primeira vez empatados, com 18%. Essa seria a grande novidade, se não fosse pela absurda margem de erro de 4,9% do Mapa. Na sondagem anterior, divulgada em 22 de agosto, Grando tinha 19% e Assis 14%, o que já configurava um empate técnico. O fato é que continua indefinido quem será o adversário de Berger no segundo turno. A pesquisa também mostra Afrânio Boppré (PT) empacado nos 10%. Dois candidatos nanicos já podem mortrar um dígito diferente de zero antes da vírgula. Gerson Basso (PV) aparece com 2% e o tal Vavo (PT do B) obteve 1% - uns quatro entrevistados juram que vão votar nele.

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

Vota num, elege outro

Sei que posso parecer chato falando tanto de eleição, mas vou correr o risco. Essa é mais uma da série "olha lá como vota". Você lembra em quem votou para vereador na última eleição? É bem provável que não. O parlamento é tão importante para a democracia moderna que ela simplesmente não existe sem ele. Nós eleitores brasileiros, no entanto, costumamos dar pouca importância à eleição do parlamentar. No máximo o vereador funciona como um cara que consegue alguns favores, quando deveria ser a voz do eleitor, seu representante mais próximo. Comprando votos com favores ou dinheiro, o vereador acaba prestando satisfações a quem financiou a campanha, não a quem o elegeu - já que o eleitor esquece logo em quem votou. Esse comportamento generalizado de venda de votos - mais do que compra - tem várias explicações: má distribuição de renda no país, educação de má qualidade, falta de tradição democrática e o próprio comportamento dos parlamentares. Mas a culpa também é do sistema de eleição proporcional, que poucos entendem como funciona.



Este ano, aqui em Florianópolis, vamos eleger 16 vereadores. Com quem ficarão essas vagas? Com os 16 mais votados, certo? Errado. O eleitor vota num candidato, mas está elegendo uma chapa. Funciona assim: os 178 candidatos estão agrupados em nove chapas. Cada uma delas pode ser formada por um único partido ou uma coligação. O eleitor escolhe um candidato entre as 178 opções. Também pode optar apenas por um partido (voto de legenda). Os votos para os candidatos e legendas de uma mesma chapa são somados. Quanto mais votos a chapa conseguir, no conjunto, mais vereadores emplaca, por ordem de votação. Isso faz com que um candidato campeão de votos possa ficar de fora - isso já ocorreu - porque a chapa não fez votos suficientes para preencher uma vaga. Vereadores menos votados, por outro lado, podem ser eleitos, empurrados pelos votos de seus companheiros de chapa.



Ou seja, nem sempre quem leva mais votos, individualmente, consegue se eleger. Por isso, antes de escolher seu candidato, é bom saber quem são seus companheiros de chapa, para não comprar gato por lebre. Votando num integrante da chapa, você está ajudando a eleger todos os outros. Esse sistema dá uma grande liberdade ao eleitor - ele escolhe o partido e o candidato que quer ver na Câmara - mas tem uma grande desvantagem: praticamente inviabiliza uma campanha séria para vereador. Como escolher corretamente entre 178 candidatos? Será possível conhecer todos? É impossível, por exemplo, organizar debates. Mudar simplesmente o sistema para o voto individual, portanto, não resolveria, além de enfraquecer os partidos, o que faz mal à democracia.



Mas há alternativas, adotadas em outros países. Uma delas é o voto distrital, em que a cidade seria dividida em 16 distritos, cada um elegendo um vereador. O número de candidatos cairia, em média, para 11 por distrito, possibilitando uma campanha mais séria e estreitando os laços entre o vereador eleito e a comunidade. Também existe o voto de lista, em que os partidos definem a ordem de seus candidatos e o eleitor vota apenas na lista. São eleitos os primeiros da fila, na proporção dos votos obtidos pela chapa. Ao contrário do voto distrital, esse sistema favorece candidatos populares em grande parte da cidade, mas que não se identificam com nenhuma região específica do município. Por fim, há o distrital misto, em que metade dos vereadores é eleito pelo sistema distrital e a outra metade pelo de lista. Tem a desvantagem de complicar a votação.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Pesquisa vale alguma coisa?

As pesquisas de intenção de voto sempre atraem um misto de interesse e rancores em época de eleição. É certo que muita gente, se não decide o voto em razão dos números, pelo menos os leva em conta. Outros desconsideram completamente a validade das sondagens de opinião, por razões que vão da descrença na ciência estatística até teorias conspiratórias. O que é preciso deixar claro é que pesquisas de opinião não são precisas. E os institutos que as elaboram admitem isso, ainda que de modo discreto. É preciso considerar duas coisas: margem de erro e grau de confiança. Parecem meros detalhes técnicos, mas são informações que esclarecem se uma determinada pesquisa serve para alguma coisa.



Ambos são fáceis de entender. Quando os números reais não batem com os da pesquisa, os institutos só consideram que houve um erro se a discrepância for muito grande. Para delimitar até onde vai o acerto, existe a tal margem de erro. Assim, se essa margem é de 2%, a pesquisa só estaria errada se a diferença entre os números pesquisados e os reais forem maiores que isso, para cima ou para baixo. Dizer que um candidato tem 20% das intenções de voto, com margem de erro de 2%, significaria dizer que ele tem algo entre 18% e 22%.



Menos conhecido é o fato de que os institutos admitem a possibilidade de não acertar o alvo, mesmo considerando a margem de erro. O método estatístico pode determinar por exemplo que, para uma determinada pesquisa, os números estariam dentro da margem em 90 levantamentos de cada 100 realizados. Assim, a pesquisa teria um grau de confiança de 90%. Quanto maior for o grau de confiança, portanto, maior a precisão da pesquisa. Já com a margem de erro, se dá o contrário: ela deve ser a menor possível.



Em relação às pesquisas publicadas até agora sobre a eleição em Florianópolis, nenhuma delas parece razoávelmente confiável. A mais precisa é a do Ibope, com margem de erro de 4% - ainda assim grande - e grau de confiança de 95%. Os números do Databrain, publicados na revista IstoÉ, tem uma confiança de 95,5%, mas admitem uma margem de erro maior, de 4,5%. Já a pesquisa do Mapa pode ser enquadrada entre aquelas que não ajudam muito a informar. A margem de erro vai a quase 5% (o que leva a uma diferença de 10 pontos entre o valor máximo e o mínimo admitidos como corretos). O grau de confiança sequer foi divulgado. Hoje, apareceu mais uma pesquisa, divulgada por um candidato, com margem de erro de 3,5%. Ainda que não se aceite as teorias de manipulação, cabe uma pergunta aos institutos: por que as margens de erro cresceram tanto nas eleições deste ano?

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Telefone IP chega ao Brasil

Vai começar uma briga boa no mercado de telefonia de longa distância (ligações DDD e DDI). De acordo com a edição de hoje do Jornal do Brasil, a GVT anunciou que vai oferecer o serviço de telefone IP (internet protocol), inicialmente em oito capitais, inclusive Florianópolis. O telefone IP inverte a lógica atual das redes de telecomunicação, em que grande parte das conexões de internet usam a rede de telefonia. Agora é o telefone que usa a internet para transmitir voz, transformada em dados. É o primeiro passo de uma revolução tecnológica. A vantagem imediata para o usuário é que o novo sistema é muito mais barato. O presidente da operadora, Amos Genish, garante que a economia chega a 70% no caso das ligações de longa distância e 90% no roaming celular (uso do aparelho fora da área de cobertura). Por isso a GVT já se prepara para a chiadeira dos concorrentes, esperando inclusive processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão federal que zela pela concorrência no mercado brasileiro. O sistema funciona de forma simples, com um adaptador ligado a um aparelho de telefone comum, e já é popular nos EUA e alguns países asiáticos. Além de Florianópolis, o serviço deve ser oferecido em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia. Nem o JB nem o saite da GVT informam quando o serviço entraria em operação.

terça-feira, 14 de setembro de 2004

E a cidade fica pior...

Continuo minha campanha "não venha morar em Florianópolis". A edição de hoje do jornal A Notícia informa a adoção de mais uma medida para piorar a qualidade de vida na cidade. A Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), estatal controlada pelo governo do estado e responsável pelo abastecimento da capital, decidiu liberar as ligações de água em construções irregulares no município. Essas ligações, assim como as de energia elétrica, haviam sido proibidas em 2001, por meio de um acordo com o Ministério Público (caso da água) e uma decisão judicial (para a luz). A proibição tem o objetivo de ajudar a conter as ocupações irregulares na Ilha de Santa Catarina, onde fica a maior parte do município de Florianópolis, inclusive o centro. As invasões e loteamentos irregulares incham a cidade de favelas, comprometem àreas de preservação e põem em risco a própria infra-estrutura local (inclusive o abastecimento de água), já que, sendo uma ilha, a cidade tem seus limites. Agora, a um mês das eleições, a Casan resolveu desrespeitar a Justiça e liberar geral. E o planejamento urbano vai para o ralo. Pessoal, não ajudem a piorar a cidade, não venham morar aqui, que vocês poderão ficar sem água, entre outros problemas. Vão para Porto Alegre, tem um monte de gente saindo de lá. Sabia que eles têm até uma "Praia de Ipanema"?

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Novidade na eleição

Enfim um fato novo na campanha eleitoral para prefeito de Florianópolis. Todas as pesquisas eleitorais publicadas até agora mostram uma posição bastante estável dos candidatos, com Dário Berger (PSDB) na frente, Sérgio Grando (PPS) em segundo e Chiquinho de Assis (PP) e Afrânio Boppé (PT) disputando o terceiro lugar. Nesse fim de semana, a imprensa local publicou o desabafo do prefeito de São José, Vanildo Macedo, que deixou o PSDB atirando no ex-aliado Dário Berger. Eleito como vice-prefeito na chapa de Dário por dois mandatos consecutivos, Macedo herdou o cargo de prefeito no início deste ano, quando Berger renunciou ao comando do principal município-satélite de Florianópolis para concorrer à prefeitura da Capital. Agora Macedo diz que recebeu uma prefeitura impossível de administrar, com um desacerto tal nas contas que obrigou o município a assinar um ajuste de conduta com o Ministério Público, forçando a demissão de funcionários contratados irregularmente e outros cortes de gastos. Berger rebateu dizendo que as contas da prefeitura têm saldo positivo. De qualquer modo, o fato abala a imagem de bom administrador em que se tem apoiado a campanha de Berger. O efeito na votação dependerá de como os adversários e a imprensa explorarão o episódio. Dificilmente o candidato do PSDB deixará de vencer no 1° turno, mas a polêmica pode ter uma influência decisiva na segunda votação, no fim de outubro.

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

A volta do Atari

Outra boa notícia para quem foi adolescente nos anos 1980. A Atari está relançando no mercado uma versão recauchutada do seu velho videogame. De acordo com o saite IDG Now, a empresa anunciou na última terça-feira o lançamento do Atari Flashback Classic Game Console, uma réplica reduzida dos clássicos modelos 2600 e 7800, que fizeram a alegria da garotada há 20 anos. A nova versão é um equipamento plug and play que se conecta a um aparelho de TV, com os velhos Atari. Já vem com 20 jogos, entre eles 19 antigos e um inédito. Também acompanha bateria e um cabo de conexão com a TV, além de dois joysticks. A previsão da empresa é de que o aparelho chegue ao mercado dos Estados Unidos em novembro. Lá, o preço sugerido é de US$ 44,95.

H.E.R.O. - jogo para o Atari 2600 Video Computer System, de 1977.



O Atari foi um verdadeiro ícone pop dos anos 1980. Virou uma febre entre a garotada e rendeu até uma versão nacional, o Dactar, uma cópia idêntica (com exceção do botão no joystick, amarelo no lugar do vermelho original, e do logo da marca). Tive um Dactar. Está na casa dos meus pais, acho que completinho, e provavelmente ainda funciona. A indústria aperfeiçou o realismo dos jogos e o velho Atari, com seus pixels atirando pixels em outros pixels, ficou obsoleto e saiu do mercado. Mas o ícone não morreu. Saudosistas o mantiveram conectado a seus televisores, formaram clubes e saites especializados. Alguns aficcionados desenvolveram até emuladores (programas que reproduzem os jogos do Atari num computador pessoal comum) e outros chegaram a abrir casas norturnas inspiradas no velho videogame.

quinta-feira, 9 de setembro de 2004

Para quem gosta de discos antigos

A revista História Viva, edição de setembro, traz duas páginas sobre o Museu Histórico de Santa Catarina, em Florianópolis. Mais conhecido como Palácio Cruz e Souza ou Palácio Rosado, o museu foi sede do governo catarinense desde meados dos anos 1700 até 1986. Nesse período, passou por uma grande reforma em 1895 e uma completa restauração em 1977. É um dos mais belos e bem preservados prédios da cidade, mantendo inclusive a mobília antiga intacta. Visitei o museu há muito tempo, mas o que me chamou a atenção na matéria foi a foto de uma peça de que não me lembro ter visto. Trata-se de uma caixa de música alemã, em estilo art nouveau, do século 19. O governador Jorge Lacerda recebeu-a como presente da esposa em 1954. Parece que é possivel escolher entre 23 discos metálicos, colocar uma moedinha e ouví-la tocar. O equipamento é mais antigo que o gramofone, o avô do toca-discos. O curioso é que, nos fim dos anos 1800, já havia aparelhos semelhantes a uma juke box. Acho que vou fazer uma visita ao museu só para descobrir se a engenhoca funciona e que tipo de música tem lá.





Caixa de música do século 19, raridade anterior ao gramofone



quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Microsoft

É preciso tirar o chapéu para a empresa de Bill Gates numa coisa: sua capacidade de fazer com que cada computador doméstico (exceto os cada vez mais raros e caros Macs) funcione apenas com programas produzidos pela Microsoft. Quando comecei a usar a internet, em 1997, usava o Netscape para navegar e o Eudora para os e-mails. Troquei-os algum tempo depois pelo Internet Explorer e Outlook Express, por praticidade. Hoje, aqui no meu modesto micro, caiu a última fortaleza: o ICQ. Não que o programa de mensagens instantâneas fosse ruim. Pelo contrário. Usava-o há anos e ele sempre me serviu bem, funcionando melhor a cada versão. Desinstalei-o hoje, mesmo assim. O fato é que ninguém mais usa o excelente ICQ. A integração com os produtos da Microsof faz todo mundo optar pelo Windows Messenger, que aliás já vem instalado com o sistema operacional Windows XP, rodando automaticamente quando abre-se o correio eletrônico. Meu único contato que usava o ICQ também é usuário do Messenger. Desisti. Ferrramentas de internet, por exigirem conectividade, não escapam do efeito manada. Onde a maioria vai, acaba indo todo mundo.

terça-feira, 7 de setembro de 2004

Berger, prefeito da capital?

Tradicionalmente, o eleitor de Florianópolis vota de acordo com a popularidade dos partidos que controlam o governo municipal e estadual.



Na primeira eleição direta depois do regime militar, em 1985, venceu Edison Andrino (PMDB). Ele encarnava a oposição ao PDS (novo nome da Arena), desgastado pela agonia da ditadura e pela crise econômica dos anos 80, e que então controlava o estado e a capital.



Em 1988, Esperidião Amin (PDS) venceu opondo-se às administrações municipal e estadual do PMDB, abalado pela frustração com o governo Sarney e crises locais.



Em 1992, o estado e o município estavam nas mãos do PFL (Amin havia se afastado para eleger-se senador, deixando a prefeitura com o vice Bulcão Vianna). O então partido da situação foi um dos mais atingidos pela crise do impeachment de Collor, afastado às vésperas da eleição, e o escândalo do orçamento. Sérgio Grando (PPS), liderando uma oposição de esquerda, venceu como alternativa às experiências anteriores. Situação que se repetiu em outras cidades.



Em 1996, Angela Amin (PPB, a então nova grife do PDS/Arena, hoje PP) ganhou a disputa opondo-se à prefeitura de Grando, que enfrentara uma crise na infra-estrutura depois de uma enchente no Natal de 1995, somada à incapacidade de atrair verbas federais e estaduais. Também opunha-se ao governo Paulo Afonso (PMDB), então enrolado no escândalo das letras e enfrentando um processo de impeachment.



O ano de 2000 foi um caso especial, já que pela primeira vez havia a possibilidade de reeleição, uma carona que os prefeitos ganharam na emenda aprovada para prorrogar o mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no governo federal. Com a popularidade em alta e o apoio do marido Esperidião Amin no governo estadual - o que garantiria acesso a verbas estaduais e federais, pela aliança dos Amin com o PSDB - Angela ganhou mais quatro anos na prefeitura.



Se a lógica for mantida, a eleição deste ano depende muito da popularidade de Angela Amin e do governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Depois da confusão envolvendo o transporte coletivo da cidade e de algumas trapalhadas do governo estadual, nenhum dos dois parece ser um excelente cabo eleitoral. Já o PT, que está no governo federal, tem o desgaste natural de estar no poder somado a uma rejeição histórica ao partido.



Talvez isso explique porque Dário Berger (PSDB) esteja liderando as pesquisas em Florianópolis. Trata-se de um político sem história na cidade (migrou do município vizinho, São José, onde crumpria o segundo mandato como prefeito) e que não tem a chancela oficial de nenhum governo. Não é à toa que tenha a menor rejeição. Seu programa de governo resume-se praticamente a asfaltar ruas. Não mexendo com problemas mais complicados, também afasta-se de polêmicas desgastantes.

segunda-feira, 6 de setembro de 2004

Pesquisa eleitoral

A revista IstoÉ publicou neste fim de semana mais uma pesquisa sobre a intenção de voto para prefeito em 19 cidades brasileiras, inclusive Florianópolis. De acordo com o instituto Databrain, contratado pela revista, Dário Bérger (PSDB) está com 31,5% da preferência do eleitorado na capital catarinense. Em seguida vem Sérgio Grando (PPS), com 18,5%. Chiquinho de Assis (PP), candidato da atual prefeita Angela Amin, aparece com 14,7% e Afrânio Boppré (PT), com 14,3%. Os cinco candidatos nanicos somam 6,2%. O instituto estima ainda que 9,4% não pretendem votar em nenhum dos candidatos e apenas 5,2% estariam indecisos. Há um empate técnico entre Grando, Assis e Boppré no segundo lugar, mas todas as pesquisas apontam uma ligeira vantagem para o candidato do PPS. O Databrain não traz surpresas em relação aos dois levantamentos anteriores do mesmo instituto. As variações estão dentro da margem de erro.



Os números do Databrain - pelo menos em relação aos percentuais dos quatro principais candidatos - são próximos aos das pesquisas já publicadas na imprensa local catarinense, feitas pelo Ibope e Mapa. Nenhum dos três levantamentos, no entanto, é razoavelmente preciso. O da IstoÉ/Databrain tem margem de erro de 4,5% (contra 4% do Ibope e 4,9% do Mapa). Nas pesquisas de intenção de voto feitas pelo Ibope no Rio de Janeiro e São Paulo, a margem de erro é geralmente de 2%, o que dá uma idéia mais clara da preferência do eleitorado. A possibilidade de que os números reais estejam dentro da margem de erro do Databrain (o que os técnicos chamam de "intervalo de confiança") é de 95,5%, segundo o instituto. O Ibope informa um intervalo de confiança de 95% e o Mapa não divulgou esse dado.

sexta-feira, 3 de setembro de 2004

Pravda. Isso é jornal.

Todo brasileiro que gosta um pouco de esporte deve ter se indignado com a atitude do irlandês Neil Horan. Trata-se daquele padre fanático que avacalhou a prova olímpica da Maratona, invadindo a pista e retendo por 12 segundos o atleta brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que então liderava a corrida. Vanderlei acabou ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini e pelo americano Mebrahtom Keflezighi, consolando-se com a medalha de bronze. Horan queria protestar contra Israel e acabou favorecendo um corredor americano, que na confusão conquistou a medalha de prata. O protesto mais contundente que eu li até agora contra o padre mala e a organização dos jogos não partiu, no entanto, de nenhum brasileiro, mas de um russo. O amigo jornalista Dom Dalmoro publicou o texto em seu blog. Como diz Dalmoro, o título do jornal Pravda é um primor: "Filho da puta!".

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Quanta animação!

Uma boa dica para quem curte filmes de animação - ou desenho animado, como se dizia antigamente. Estão na rede os 20 finalistas do Anima Mundi Web 2004, selecionados no mês de julho entre 222 curtas para internet inscritos no festival mundial de animação, realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro. Um dos destaques é o filme Menino Caranguejo, feito pelo professor de design José Francisco Peligrino Xavier, o Chicolam, de Joinville. A animação politicamente correta em defesa dos animais silvestres - e mesmo assim muito boa - tem duração de três minutos. O filmete ficou em terceiro lugar no festival e foi o segundo na votação popular. O grande vencedor foi o sul-coreano There she is, de SamBakZa, uma animação divertida em ritmo de desenho japonês para TV. Tem muito mais coisa boa. Entre os brasileiros, não deixe de ver o engraçado Um homem com uma Bíblia, de Eduardo Souzacampos, e o maluco Jimmy Jazz, de Eric Lovric. Por la noche, da argentina Gabriela Perez, é tão despretencioso quanto imperdível. Austrália, Israel, Finlândia, França, Taiwan, Inglaterra e Escócia também emplacaram representantes entre os 20 selecionados.

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

"Disciplina é liberdade"

Esse verso da música Há tempos, do extinto Legião Urbana, sempre me fez pensar. A frase nos soa propositalmente estranha. É que nós crescemos com a idéia de que a disciplina aprisiona. Já a liberdade seria uma permissão para realizar qualquer desejo, a qualquer hora, livre de regras ou limitações. A disciplina seria portanto, contrária à liberdade. Renato Russo e sua legião discordaram dessa idéia, e acredito que não foi com ironia. Para eles, a disciplina e liberdade não são opostas. Mais que isso, uma implica na outra. Para chegar onde se deseja, realizar um sonho, conquistar uma vitória, é preciso disciplina. Não há liberdade sem ela. Além disso, aproveitar a liberdade requer disciplina, para não ferir a liberdade do outro. Há 30 anos, no Brasil do regime militar, a disciplina era ordem. E a ordem era o governo. Muita gente que se opunha à ditadura, por isso, tendia a adotar a indisciplina como bandeira. Muitos continuam agindo assim hoje em dia, mesmo entre as gerações mais novas, como se tivessem nascido na época errada. Rejeitam tudo o que seja disciplinado, limpo, ordenado, eficiente, mesmo sem saber direito por que razão. Não entenderam o recado. "Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter bondade é ter coragem".

terça-feira, 31 de agosto de 2004

Lixo musical do bom!

Quem foi adolescente nos anos 80 vai gostar dessa. É o Trash 80's, saite de uma festa já tradicional em São Paulo, realizada às sextas e sábados, com o pior do pop dos anos 80. Mas o melhor é a seção TV/Rádio. Traz videoclipes que são verdadeiros achados arqueológicos. Faz viajar no tempo. Tem muita coisa que a gente gostava bastante na época, alguns anos depois passou a odiar e hoje morre de rir. Olha só (algumas músicas a gente não consegue lembrar pelo nome, mas reconhece imediatamente aos primeiros acordes): Lost in Love (Air Supply), Daddy Cool (Boney M), Automatic Lover (Dee Dee Jackson, um clipe absurdamente bizarro), Voyage, Voyage (Desireless), Der Komissar e Rock me Amadeus (Falco) e Betty Davies Eyes (Kim Carnes) são algumas das raridades. Há ainda dois clássicos da época: Billie Jean (Michael Jackson) e Purple Rain (Prince). É diversão garantida.

segunda-feira, 30 de agosto de 2004

Rede Globo, 20 anos depois

No último domingo, saí com um grupo de amigos jornalistas que comemoravam dez anos de profissão, ou mais precisamente, de formatura no curso de jornalismo, já que geralmente o pessoal começa a trabalhar na área antes de concluir a graduação. Ninguém se arrepende, mas o sentimento geral é de que a profissão não atendeu ao que se esperava dela. Talvez porque jornalistas fazem parte de uma raça insatisfeita por natureza, mas o mercado não tem ajudado. Os salários nunca animaram muito. Nesta semana o grupo de mídia controlado pelo empresário Nelson Tanure (Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e o saite Invest News) anunciou a demissão de cerca de 80 profissionais de redação, para reduzir custos. Isso num momento em que a economia do país se recupera e o desemprego começa a ceder. À caça de anúncios de qualquer jeito, as empresas de comunicação são cada vez mais promíscuas, procurando dar prioridade aos seus interesses comerciais e deixando de publicar o que o leitor precisa ou quer saber.



Há uma ironia histórica em relação a isso, no meu modo de ver. Há 20 anos, criticava-se muito a Rede Globo de Televisão por manipular a informação a seu bel-prazer, sustentada por um quase monopólio do mercado de comunicação. Basta lembrar o comício das diretas na Praça da Sé, em 1984, noticiado como uma comemoração do aniversário de São Paulo, ou a edição do último debate entre Fernando Collor e Lula, na eleição presidencial de 1989. Outras emissoras, com a Bandeirantes, eram vistas como mais "independentes". Hoje, a Globo parece ser o veículo capaz de proporcionar a informação mais confiável, justamente porque, com seu tamanho e saúde financeira, é uma das empresas mais protegidas contra interferências externas. As outras redes de TV desistiram de concorrer com a Globo e engalfinham-se entre si pelo resto do mercado, não hesitando em apelar. Os jornais estão quebrados, à procura de sócios estrangeiros ou empréstimos camaradas do BNDES. É muito mais fácil, para um anunciante ou um governo, pressionar um veículo nessa situação.

domingo, 29 de agosto de 2004

Enfim, ouro na quadra

A coluna de hoje do Tutty Vasques no site no mínimo traz a melhor e mais divertida análise que já li sobre o desempenho dos atletas brasileiros nas Olimpíadas de Atenas. Vale apena dar uma olhada. Acrescento algumas coisas. O Brasil acaba de levar o ouro no vôlei masculino, com 3 sets a 1 em cima da Itália, num jogo que acabou ganhando caráter de "lavagem da honra nacional" nesses jogos. O vôlei masculino do Brasil, que entrou nos eixos na era do treinador Bernardinho, vem fazendo boas campanhas há muito tempo, vencendo campeonatos mundiais e subindo no pódios nas últimas olimpíadas. O vôlei de praia masculino, é bom lembrar, também levou ouro da Grécia. Não seria a hora de deixar um pouco de lado o futebol e adotar o vôlei como esporte nacional? É mais barato contruir ginásios - com a vantagem ainda de serem multiuso - do que estádios de futebol. A relação com as universidades parece também mais fácil. O trabalho de equipe é ainda mais fundamental que no jogo com os pés. De certa forma, se pensarmos bem, já somos um país do vôlei. Só falta os clubes adquirirem uma identidade com as torcidas tão forte quanto no futebol.

sábado, 28 de agosto de 2004

Muçulmanos por aqui

Acabei de voltar de uma viagem de estudos a Lages, na serra catarinense, onde visitei um templo islâmico, a mesquita. O Islã é a religião que mais cresce hoje no mundo - já tem mais de 1,3 bilhão de adeptos - e conversando com os muçulmanos de Lages, acho que tive algumas pistas sobre as razões desse crescimento. É uma religião que tem suas regras, muitas vezes rígidas - como a proibição de bebidas alcoólicas - mas ao mesmo tempo dá um espaço de liberdade muito grande ao indivíduo. Não há, como entre os cristãos católicos, um clero que vigia o comportamento dos fiéis. Cada um resolve o problema com sua própria consciência. Não há confissão de pecados. O relacionamento é direto com Deus, sem a intermediação de padres ou figuras semelhantes. Em vez do dízimo cristão - um pagamento à instituição igreja - eles destinam uma esmola diretamente a quem precise de auxílio. Os templos são despojados e os rituais simples. Não há missas. Uma vez por semana a comunidade se reúne, para rezar e falar tanto de religião quanto dos problemas do cotidiano. As mesquitas são abertas a não muçulmanos - desde que comportem-se com respeito - e não há proselitismo. Eles preferem conquistar almas com o exemplo do que com a pregação.



Imigrantes libaneses instalaram-se em Lages na década de 1950, numa época em que a indústria madeireira impulsionava a economia da região. A comunidade islâmica local chegou a contar cem famílias. Depois que as matas de araucária sumiram e as madeireiras começaram a fechar, muitos saíram da cidade e hoje o grupo está reduzido 50 famílias. Em 1980, eles conseguiram um terreno da prefeitura para a construção da primeira mesquita de Santa Catarina - atualmente são duas no Estado, a outra em Criciúma. A construção do templo foi concluída em 1986. É um edifício simples, ao mesmo tempo despojado e aconchegante. Conta com um salão amplo, dotado de uma abóbada para garantir uma boa acústica, onde são feitas as orações comunitárias. Alí é preciso tirar os sapatos para entrar, em sinal de respeito e pureza. O prédio também conta com o tradicional minarete, uma torre típica das mesquitas, antigamente utilizada para que, lá do alto, alguém chamasse a comunidade à oração. Há ainda uma espécie de capela mortuária, onde os mortos são velados. O cemitério municipal tem um setor islâmico, onde os corpos são enterrados sem caixão, apenas envoltos numa mortalha, e não há túmulos. O enterro islâmico é bem mais barato que o cristão.

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

Guerra, engenharia e história

A revista Nossa História, publicada pela Biblioteca Nacional, traz na edição de agosto uma matéria sobre a Guerra do Contestado, uma das últimas e maiores revoltas civis em território brasileiro, entre 1912 e 1916, mas pouco conhecida fora de Santa Catarina - e de certa forma, mesmo por aqui. O conflito ocorreu na região serrana do interior do Estado e levou a formação de pelo menos uma dezena de povoados rebeldes. A sedição em massa foi debelada pelo Exército com o auxílio de aviões, usados então pela primeira vez no Brasil como arma de guerra, depois de várias derrotas impostas às forças do governo pelos sertanejos. Estima-se que cerca de 10 mil pessoas tenham morrido no conflito. As características messiânicas da revolta, com a formação de "cidades santas", leva a comparação com Canudos, na Bahia, conflito ocorrido duas décadas antes e relatado no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha. O texto da revista é assinado pelo professor Paulo Pinheiro Machado, do Departamento de História da UFSC, autor do livro Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916), recém-lançado pela Editora da Unicamp.





Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, construída entre 1922 e 1926.



A mesma edição da revista dedica uma página para tratar da necessidade de recuperação da Ponte Hercílio Luz, obra orçada em R$ 120 milhões. Patrimônio histórico nacional, prodígio de engenharia para a época, a ponte pênsil metálica de 800 metros foi inaugurada em 1926 e interditada ao tráfego em 1982, quando ameaçava ruir, depois de meio século sem manutenção. Até 1976 foi o único acesso rodoviário à Ilha de Santa Catarina, onde fica a maior parte do município de Florianópolis, inclusive o centro e a sede do governo do Estado. Desde que foi interditada, a ponte vem passando por reparos para amenizar as marcas do tempo. O piso de asfalto foi substituído por grades de aço, para aliviar o peso. Originalmente preta, a estrutura metálica foi pintada de prata, para refletir a radiação solar e reduzir os efeitos da dilatação provocada pelo calor. O governo do Estado planeja recuperar a ponte e reabri-la ao tráfego, mas o problema é o mesmo de sempre: dinheiro.

quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Pesquisas, pesquisas...

Há algo estranho nas últimas pesquisas de intenção de voto para prefeito em Florianópolis. Os institutos Mapa (local) e Ibope (nacional) parecem chegar à mesma conclusão, mas na verdade apontam em direções opostas. Ambos apostam que, se a eleição fosse hoje, Dário Berger (PSDB) e Sérgio Grando (PPS) iriam ao segundo turno. Os outros dois candidatos com alguma chance, Chiquinho de Assis (PP) e Afrânio Boppré (PT) disputam o terceiro lugar. As posições de Grando, Chiquinho e Afrânio pouco mudaram em relação aos levantamentos anteriores divulgados pelos dois institutos, há cerca de um mês e meio. Mas é na evolução do primeiro colocado que está a divergência. Para o Mapa, Dário Berger cresceu sete pontos percentuais (de 27 para 34%), enquanto para o Ibope, o mesmo candidato caiu seis pontos (de 34 para 28%). Notem que os números quase coincidem, só que invertidos. Alguém errou.

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Tô bem na foto?

Estou realmente me divertindo com esse negócio de publicar um blog. Aos poucos vou descobrindo alguns recursos da linguagem html e colocando umas coisinhas a mais no site. A última é a foto aí do lado. É um detalhe de uma imagem feita pela minha amiga Cris Fontinha em dezembro do ano passado, durante uma confraternização de fim de ano com os colegas de trabalho, num restaurante em Santo Antônio de Lisboa, aqui em Florianópolis. Na ocasião, incentivado por minha colega Sílvia Pinter e por uns copos de cerveja, topei pagar mico e me apresentar no karaokê do bar, com acompanhamento de um tecladista da casa. Creio que esse flagrante aí é um momento de "Garçom", do Reginaldo Rossi. Lembro que o show teve ainda Vando (Fogo e paixão) e Roberto Carlos (Quero que tudo vá pro inferno). Olha que bom gosto!

terça-feira, 24 de agosto de 2004

Ai que preguiça!

A idade é triste. A barriga vai crescendo, subir a ladeira para chegar em casa cansa como o diabo, você não tem mais saco para ficar a noite inteira em pé num show de rock, fica puto quando um adolescente faz barulho no apartamento de cima, essas coisas. Aí a mulher começa a pegar no seu pé, que você está muito mole, precisa fazer exercício e comer salada. Então você faz matrícula numa academia de natação, programa-se para entrar na piscina duas vezes por semana e comparece uma semana a cada dois meses. Mas você não desiste. Uma viagem de férias, provas na universidade, a mão enfaixada para proteger um corte costurado com quatro pontos, tudo fornece uma boa desculpa para escapar do esforço físico e passar uma hora a mais na cama. Mas quando você falta três meses seguidos e continua pagando a academia, a coisa começa a ficar improdutiva. Amanhã é dia de acordar cedo, afinal. Acabaram-se as desculpas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Qualidade de vida

Já decidi, voto no candidato a prefeito que se comprometer a promover uma intensa campanha de mídia nacional detratando a imagem da cidade. Dá para parar com esse negócio de ficar anunciando aos quatro ventos que aqui tem qualidade de vida, que tem emprego, que as mulheres são mais gostosas e o escambau? A cidade continua inchando e importando problemas de tudo quanto é lugar por aí. Todo fim de semana tem alguém assassinado no meio da rua. Não é apenas nas favelas, mas no centro da cidade, nem no anonimato da madrugada, mas às duas da tarde. Nos morros da Ilha e nas área pobres do continente, já tem traficante expulsando gente de casa - e não é de hoje. O abastecimento de água está no limite, o investimento em esgoto não acompanha nem de longe o crescimento da cidade e os engarrafamentos na região da Lagoa não são mais um fenômeno apenas de alta temporada. Apesar disso tudo, em qualquer lugar do Brasil todo mundo quer vir para cá. Espalhem por aí, por favor: - Florianópolis é uma merda! Mandem esse povo todo para Porto Alegre!

domingo, 22 de agosto de 2004

Estranho esporte

Nunca fui muito fã de esportes, embora assista a algumas partidas da Seleção Brasileira de Futebol e já tenha - nos tempos de Nelson Piquet e Ayrton Senna - levantado cedo em vários domingos para ver as provas de Fórmula 1. Nada que chegasse a virar um vício, no entanto. Uma vez visitei uma amiga no Rio de Janeiro e fiquei impressionado - até um pouco chocado, diria - com a forma como aquele pessoal leva o futebol a sério. Desfazem amizades e rompem com parentes por causa de um jogo. Num curto período que morei em São Paulo, eram comuns notícias de torcedores baleados por estarem usando a camisa de seu time depois de um partida entre rivais locais. Claro que esses são exemplos negativos mas, o que parece ser inegável, é que o esporte é capaz de canalizar uma energia tremenda, mover paixões. Isso sempre me impressiona. O que faz as pessoas torcerem e se interessarem tanto por uma ginasta ou um atleta de salto triplo que representam seu país nas Olimpíadas, quando sequer entendem as regras desses esportes? O que desperta sentimentos nacionais de simpatia e até adoração por atletas que há um mês eram completos desconhecidos? No Brasil, parece que só o esporte tem força suficiente para unir pessoas de forma tão rápida. Mas também serve para separá-las.

sábado, 21 de agosto de 2004

Outra Bobagera

Resolvi fazer uma pequena mudança no nome do blog. Eliminei a letra "i" e agora o site chama-se Bobagera. A frescura tem motivo: há outro blog, mais antigo, com nome idêntico ao anterior, e ninguém aqui quer confusão. Por essa mesma razão, o endereço web (que permanece o mesmo) já era escrito sem o "i"(bobagera.blogspot.com). Assim, a mudança também adequa o título ao endereço do blog.



De qualquer modo, bobagera (com ou sem i) não aparece no Aurélio, o que lhe dá uma certa condição de palavra marginal em nosso idioma. O verbete aureliano mais próximo é bobajada, definida como "chorrilho de bobagens ou bobices", ou simplesmente "grande bobagem". Para quem não sabe o que é chorrilho... Ah! Vai procurar no dicionário, ô deitado!

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Sunitas e Xiitas

Já que a Alice comentou no último post que o Bobageira também é cultura, agora agüenta. Quem assiste aos noticiários de TV sobre o conflito no Iraque ouve falar o tempo todo de xiitas e sunitas, mas pouca gente entende o que é isso. Os xiitas são uma espécie de protestantes do Islã - forçando um pouco - se a gente comparar os sunitas aos cristãos católicos. Maomé fundou a religião islâmica em 622 e morreu dez anos depois, sem deixar nenhum filho homem nem instruções claras sobre quem seria seu sucessor. Parte de seus seguidores queria que o novo califa (líder da comunidade muçulmana) pertencesse à família do profeta. Nesse caso, o candidato natural seria Ali Ibn Abi Talib, casado com a filha de Maomé, Fátima. Outro grupo, que acabou prevalecendo, entendeu que qualquer fiel poderia ser o novo califa, desde que aceito pela comunidade.



Sucederam-se quatro califas até que Ali, o genro de Maomé, assumiu o posto, em 656. O Império Muçulmano já havia crescido muito em tamanho e riqueza e as divisões políticas levaram a uma guerra civil. O líder Ali acabou assassinado em 661. Seus partidários passaram a contestar a legitimidade dos califas desde então e formaram a facção (shi'a, em árabe) de Ali, origem dos xiitas. O grupo que assumiu o poder intitulou-se defensor da tradição (sunna), de onde vêm os sunitas. Hoje, há países sob controle xiita, como o Irã, e sunita, como a Arábia Saudita. Mas na maioria dos países muçulmanos, como o Iraque, as duas facções são numerosas, opõe-se politicamente e mantêm formas um pouco diferentes de viver o Islã. No Iraque de Sadam Hussein, os sunitas estavam no poder, embora a população seja de maioria xiita. Curiosamente, são hoje os xiitas, oprimidos nos tempos de Sadam, a principal força de resistência contra as tropas de ocupação lideradas pelos EUA.

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Lei de Murphy

Para quem está de mau humor, precisando relaxar, recomendo assistir ao horário eleitoral gratuito, no espaço dos candidatos a vereador. Verdade! É o programa mais divertido da TV, o maior desfile de gente sem noção por segundo. Tá certo que pode ser trágico, quando você pensa que vai ter que escolher seu representante entre esses caras, mas há sempre um ou dois que dá para encarar. Na verdade trata-se de gente muito corajosa. Não temem o ridículo. Há quem cante uma musiquinha de campanha, largue bordões trocadilhescos ou fique congelado lendo um texto, quando claramente só os olhinhos se mexem de um lado para outro. Mas aqui em Florianópolis, um candidato passou de todos os limites. Ele se apresenta como Murphy. Isso mesmo, Murphy. Imagine esse cidadão eleito, fazendo leis. É a própria piada pronta.



Mas quem é o verdadeiro Murphy?



De acordo com o site Murphologia, o capitão Edward A. Murphy, Jr. foi um dos engenheiros envolvidos nos experimentos de veículos com foguetes propulsores correndo em trilho único, realizados pela Força Aérea dos Estados Unidos em 1949 para testar a tolerância humana à aceleração. Um dos experimentos envolvia um conjunto de 16 medidores colocados em diferentes partes do corpo humano. Havia duas maneiras de colocar os sensores, e um técnico instalou todos os 16 da maneira errada. Irritado com o auxiliar trapalhão, Murphy teria dito: "se houver uma maneira de fazer a coisa errada, ele faz!". George E. Nichols, uma das testemunhas do desabafo, imediatamente apelidou a frase de "Lei de Murphy". Algum tempo depois, o episódio foi citado pelo Major John Paul Stapp, numa conferência à imprensa para apresentar os resultados do projeto. Stapp disse que a crença da equipe na Lei de Murphy foi fundamental para o sucesso do trabalho, já que todos se esforçavam para evitar falhas. Nichols contou essa versão da história em carta ao autor do livro "A Lei de Murphy e outros motivos por que tudo dá errado", Arthur Bloch.

quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Comentários

Graças a uma dica do amigo Giancarlo Proença consegui corrigir um problema do blog, que dificultava o envio de comentários. A configuração original do Blogspot permite que os posts sejam comentados apenas por usuários cadastrados no Blogger, a menos que assinem como anônimos. O dispositivo foi alterado e agora não é preciso passar por aquela página chata que pede nome do usuário e senha. Como a maioria dos blogs, o link "comments" abaixo de cada post abre uma janelinha que permite escrever o comentário sem complicação. Agora não tem desculpa, pessoal, escrevam aí.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Estados Unidos

Acredito que é preciso conhecer algo para que se possa criticá-lo ou elogiá-lo. Mas parece que muita gente rejeita o conhecimento sobre um determinado assunto por medo de identificar-se com ele. Explico. No curso de História da UFSC, há uma pressão para que se inclua no currículo uma disciplina sobre a História da África. Justo. Não se pode compreender a história do Brasil, especialmente no período colonial, sem entender a África. No início do ano foi implementada uma disciplina que dá conta do recado, embora optativa. Também é fundamental, para entender a nossa época, conhecer a história dos Estados Unidos. Mas nesse caso ninguém briga pela implantação de uma disciplina sobre o assunto. Talvez porque, num ambiente esquerdista, tal reivindicação soaria como defesa do imperialismo americano. E aí os professores que vão para as escolas sabem da história dos Estados Unidos apenas o que viram nos filmes americanos. Depois reclamam de colonialismo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Pobres alunos

Depois que comecei a fazer o curso de História na UFSC, que forma essencialmente professores (já que quase ninguém nesse país se pode dar ao luxo de ser exclusivamente historiador), comecei a me interessar mais por Educação. E acho que descobri porque ela é tão ruim no Brasil, em que pese algumas melhoras na última década. A culpa é do pessoal que trabalha com Educação na universidade, formando os coitados dos professores. Ô gente ruim!Pegando todo o pessoal que ensina e pesquisa Didática, espremendo bem, acho que não sobra um que valha a pena. Por isso o professor tem que aprender tudo - exceto o conteúdo do que ensina - na sala de aula. A disciplina que faço nesse semestre, de Psicologia da Educação, é de chorar. Não tenho mais paciência para professor incompetente e enrolador.

Don Enrique

Encontrei uma figura muito curiosa quando estive em Buenos Aires, na semana passada. Trata-se de um taxista que apresenta-se como "Don Enrique". Descendente de bascos, é filho de pai portenho e mãe de Santa Fé, no interior argentino. Nascido em Buenos Aires e trabalhando há 30 anos nas ruas, conhece tudo da cidade e fala pelos cotovelos. Diz que fez muitos amigos brasileiros - que o chamam de "Riquinho" -, escreve poesias e recita algumas delas para os passageiros. E são boas, sempre falando sobre as ruas, os amores e personagens que correm nas artérias da cidade. Carrega dezenas de folders e material com informações turísticas no táxi, ao alcance da mão, e está sempre pronto a responder qualquer dúvida ou dar boas dicas de programas. Um figuraço. O cartão que ele distribui aos passageiros - sempre novos amigos - traz escrito: "Optimo servicio. Experiencia. Don Enrique. Su guia y Colaborador en Buenos Aires. City Tours - Tango - Airport - Tours de Compras", acompanhado do número da licença, telefones e e-mail. Traz ainda o desenho de um carro que mais parece uma limusine. Riquinho nos fez companhia por não mais que 15 minutos, numa viagem de táxi entre Puerto Madero e uma estação de trem. Mas foi o programa mais divertido de Buenos Aires.

Santo Maradona

Os portenhos têm três paixões, como eles mesmo gostam de dizer: o churrasco (asado), o tango e o futebol. Durante a visita a Buenos Aires, pude conhecer um dos templos argentinos da bola. Ou, mais propriamente. o lugar de veneração a um santo local: Maradona. Há até um museu dedicado ao ídolo. O Estádio do Boca Júnior, no bairro La Boca, não é o maior da cidade. Conhecido como La Bombonera (caixa de bombons), por sua forma retangular, tem capacidade para 50 mil espectadores, contra quase 80 mil do River Plate, o clube rival localizado na zona mais rica de Buenos Aires, do outro lado da cidade. Tive a forte impressão de que é mentira, mas eles contaram uma historinha curiosa sobre o Boca Júnior. No início, o time usava um uniforme preto e branco, as mesmas cores da camisa de outro clube localizado no mesmo bairro. Para decidir quem mudaria a cor do uniforme, as duas equipes marcaram um jogo. Aquele que perdesse, adotaria as cores da bandeira do primeiro navio que atracasse no porto. O Boca Júnior perdeu. Os dois times foram ao porto e encontraram um navio sueco. A partir daí, a equipe teria adotado as cores atuais, azul e amarelo. La Boca, em contraste com os elegantes arredores do River Plate, é um bairro decadente, ligado a uma zona portuária (o nome se deve à embocadura do Riachuelo, que ali deságua no Rio da Prata e estabelece um dos limites da cidade). É um lugar onde não se recomenda sair à noite. Antigamente se fixaram ali imigrantes italianos, que viviam em pequenos cortiços feitos de lâminas de zincos, pintados de várias cores diferentes com tintas recolhidas de sobras das reformas dos navios. Hoje, uma das ruas foi transformada em atração turística, com reconstituição das casinhas coloridas, lojinhas e feiras de artesanato. El Caminito (a rua foi batizada com o nome de um tango) parece uma pequena ilha enfeitada num lago de sujeira e pobreza.

Transporte portenho

Na última nota falei que Buenos Aires teve o primeiro metrô da América do Sul (1913). Acho que um dos três originais ainda está por lá. Ô tranqueira velha! Seria muito bonito se estivesse bem conservado e adaptado em alguns ítens de segurança. Estávamos eu, a Cléia, minha cunhada Clésia e o marido dela, Doni, num dos vagões do Subte, reparando que a lata velha - na verdade em grande parte feita de madeira, inclusive os bancos e janelas - sequer tinha um sistema de travamento de portas, que não se fechavam automaticamente e podiam ser abertas com o trem em movimento. Uma argentina, que observou nossa estranheza, apressou-se em nos dizer que aquele era um caso excepcional: - Es una verguenza para nuestro país! Verificamos depois que aquele situação realmente não era comum. Os outros três eram mais novos, e com mais segurança, embora houvesse algumas situações intermediárias. O metrô de Buenos Aires tem cinco linhas, que cobrem a cidade de maneira limitada. Os ônibus são velhos, mas os táxis numerosos e baratos. Há também três que complementam o sistema de transporte urbano e acabam funcionando como extensão do metrô. Há ainda uma linha de Buquebus, barco rápido de passageiros que faz a ligação com Montevidéo atravessando o Rio da Prata, o mais largo do mundo, como eles gostam de lembrar. A Avenida 9 de Julho, também é considerada a mais larga do mundo, com seus 144 metros. É na verdade formada por várias avenidas paralelas, separadas por largos canteiros e calçadas.

Buenos Aires

Passei cinco dias em Buenos Aires. A má-fama dos portenhos, que por extensão acaba atingindo todos os argentinos, não é birra apenas brasileira. Nos outros países sul-americanos e até na Europa eles também têm a pecha de arrogantes. Mas essa auto-imagem de uma ilha européia no continente tem lá suas raízes históricas. Na primeira metade do século XX, a Argentina era um país rico. Frigoríficos ingleses lá se instalaram e os pecuaristas fizeram fortuna, graças a exportação de carne. Até que a concorrência autraliana acabou com a festa. Buenos Aires teve o primeiro metrô da América do Sul (1913). Altamente europeizada, a cidade era considerada, sem demasiado exagero, a Paris sul-americana. Enquanto isso o Rio de Janeiro, então capital brasileira, fazia uma drástica reforma urbana (o bota-abaixo) para apagar os feitos vestígios coloniais, enfrentava convulsões sociais, favelização, surtos de febre amarela e da gripe espanhola. Os portenhos orgulham-se desse passado opulento e mantém a pose apesar das crises econômicas. Fomos ver in loco o quanto a cidade ainda mantém desse brilho.